terça-feira, 26 de agosto de 2014

De volta à Floresta Encantada

Ave amigos! 
Hail friends!

A Floresta Encantada é um fragmento de Mata Atlântica que desde sua descoberta sempre nos brindou com ótimas surpresas.
Surpreendeu-me a quantidade de aves e a raridade de espécies que só encontrei lá, apesar de já ter visitado várias outras matas na minha querida cidade, Rio Piracicaba/MG. Aliás, mesmo em matas muito maiores que já visitei, não encontrei tantas maravilhas.

A título de exemplo posso citar algumas espécies fantásticas, seja pela beleza, seja pela raridade, já registradas:
Tapaculo-pintado (Psilorhamphus guttatus) - que inclusive estava vocalizando nesta minha última visita(em abril nem playback respondia)
Macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus) - encontrei um indivíduo vocalizando desta vez
Falcão-relógio(Micrastus semitorquatus)
Gavião-pega-macaco(Spizaetus tyrannus)
Curió(Sporophila angolensis)
Azulão(Cyanoloxia brissonii)
Choquinha-de-dorso-vermelho (Drymophila ochropyga)
Formigueiro-assobiador(Myrmoderus loricatus)
Surucuá-variado(Trogon surrucura)

Bem, no último final de semana estive na minha cidade natal, para comemorar mais uma primavera, a 85ª, da minha querida vó, D. Naná - e parece que a estação das aves começou mais cedo por lá também.
A Floresta estava especialmente cheia de vida. Cantos, pulos e voos pra tudo quanto é lado.
A surpresa desta vez foi o registro do maior cotingídeo brasileiro, o Pavó(Pyroderus scutatus), espécie considerada rara.
Conforme dicionário do Wikiaves, uma espécie é considerada rara quando "mesmo em seu habitat de ocorrência, é pouco comum de ser avistada. Ave cujas condições de sobrevivência ou reprodução exigem de tal forma do ambiente ou demais fatores que torna a sua ocorrência pouco abundante em relação a outras espécies"*.
Apesar de tê-lo encontrado há exatamente um ano atrás, na excursão da Ecoavis, o sentimento que ficou era de que aquele pavó só estava de passagem. Mas este novo avistamento dá a esperança de que o pavó realmente é mais um dos fantásticos habitantes da Floresta Encantada.

Por frequentar normalmente o topo das árvores, e pela posição que o registrei, infelizmente não consegui fazer um registro à altura da beleza desta ave.

Estava num eucaliptal, na borda da mata


Outro lifer desta passarinhada foi a guaracava-cinzenta(Myiopagis caniceps), que apesar de constar na literatura que também habita a copa das árvores, estava na altura dos olhos.



Como sempre, estava acompanhado do meu querido tio Maninho Camarão, o Timá, e ele sempre falava em encontrar na nossa cidade uma de suas espécies favoritas, a águia-chilena(Geranoaetus melanoleucus).
Sempre dizia, “João, vi um bicho bruto voando bem alto, sei não... mas acho que era a chilena!”
Apesar da esperança, faltava aquele registro documentado, para não deixar dúvidas, né Timá?

Vale o parênteses:

Quando ainda nem fotografava(era observador de aves de rapina) tive a satisfação de observar a magnífica águia-chilena no Morro Agudo(e que por coincidência é o lugar onde D. Naná nasceu).
O Morro Agudo(que era agudo porque era de ferro e por causa disto não é mais morro) fica muito próximo da Floresta Encantada, e esta fica aos pés da serra do Seara, então realmente não era improvável um encontro com a águia-chilena, que sabidamente está associada a formações montanhosas(inclusive faz seus ninhos em penhascos).

Comecei a observar aves de rapina ainda criança e naquela época não havia internet, então os raríssimos livros que falavam de nossa avifauna possuíam um conteúdo praticamente mítico, e aquelas poucas informações que tive durante décadas influenciaram-me fortemente.
O segundo livro que tratava exclusivamente sobre aves que tive foi o excelente “Aves Silvestres de Minas Gerais”, do ornitólogo mineiro Marco Antônio de Andrade. O final do texto sobre a harpia nunca vou esquecer, é mais ou menos assim “mas um atento e persistente observador ainda poderá ter a satisfação de observar uma magnífica harpia voando sobre alguma floresta primitiva que ainda resta em Minas Gerais”. Precisa dizer qual o meu maior sonho? rs

Então, sempre atento, qualquer ave que passa voando muito alto, não deixo de registrar e a persistência, de vez em quando, me presenteia com registros bem legais. Foi assim mês passado no Jardim Botânico com o caracoleiro(Chondrohierax uncinatus) – espécie incomum e fantástica de gavião - e este final de semana com a águia-chilena, primeiro registro documentado para Rio Piracicaba/MG. 
Foi assim: "Brother(mais um apelido do meu tio), tem um bicho bruto voando lá no alto!" Ao mesmo tempo que falava, o procurava com a lente. Quando consegui focar, a reação foi imediata, "é a chilena!!!"
 Bem, quem é birder entende o que sentimos.

Com quase dois metros de envergadura, a águia-chilena é um bicho bruto!




Alguns outros registros na Floresta Encantada:


Trepador-coleira no taquaruçu

Barbudo-rajado na tranqueira


Saíra-viúva no limpo
Cena rara: papa-taoca-do-sul fora da tranqueira(seguindo formigas-de-correição)

Picapauzinho-de-testa-pintada no contra luz

Bem amigos, antes de finalizar queria dedicar este lifer tão festejado ao meu querido tio Maninho Camarão, o Brother, que encontrou o pavó, e deixar a mensagem abaixo(foto: sagui-de-cara-branca, fotografado na Floresta Encantada).

Observar a natureza é um exercício de autoconhecimento