terça-feira, 28 de novembro de 2023

1200!

Ave amigos!

Principio esse post comemorativo com uma curiosidade:

Em novembro de 2020 publiquei aqui o post das 1100 espécies registradas, começando assim: 

"Em novembro de 2017 alcancei a marca de 1000 aves brasileiras registradas. Depois do milhar, três anos se passaram para fechar a primeira centena."

E, coincidentemente, mais exatos três anos se passaram para fechar outra centena. 

Nesse ritmo, daqui a 21 anos completo o álbum😅

Bem, continuar viajando, conhecendo e experimentando esse país tão amado e fazendo lifers ainda é o maior barato. 

Continuar tentando sensibilizar os compatriotas, através de singela, porém apaixonada divulgação das nossas belezas nacionais, ainda é um bom motivo para seguir rumo às 1300.

Coincidentemente também, foi em busca de tudo isso que escapei da maior onda de calor que castigou o Sudeste. 

Não que o Maranhão seja um lugar fresco, muito longe disso, mas estava suportável de dia, e de noite uma suave brisa tornava agradável nossas saídas para jantar ou procurar alguns bacuraus de nossa lista. Perto dos relatos que recebíamos, estávamos num oásis!

Aqui vale um parênteses. 

Estamos tendo diversos avisos de que o caminho que estamos seguindo não é seguro. Estamos vendo previsões científicas não muito boas se concretizarem. 

Quando a humanidade tomará um novo rumo?! Por quantas catástrofes ainda precisaremos passar?! 

Saudade do tempo que "morrer de calor" era só uma figura de linguagem (hipérbole, para ser mais preciso, conforme explicação do meu filhote que estudou essa matéria recentemente).

Minha impressão é que estamos conscientemente seguindo para o auto extermínio. 

Poder e ambição realmente cegam! 

Insanos!!! Acham que vão levar daqui algo além das desgraças que dão causa?!


Nosso primeiro objetivo era uma missão quase impossível. Aliás, só recentemente, através do trabalho do guia e pesquisador Luis Morais, é que começaram a pipocar fotos incríveis de um dos maiores fantasmas de nossas florestas, o fantástico jacu-estalo. 

Apesar de encontrarmos 5 indivíduos, em dois dias intensos de buscas, em que o Luis não mediu esforços, não conseguimos o tão sonhado registro, mas vivemos fortes emoções, e como diria o rei, "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu viviiiiiiii".

Durante as buscas pelo enigmático jacu (que de jacu não tem nada), fizemos os dois primeiros lifers da viagem. 

O primeiro foi um dos que mais queria fazer, um dos top 5 da viagem. 

Conopophaga roberti
Pintou até essa jovem fêmea

Sou fã desse gênero e fiquei muito satisfeito com os registros que consegui do chupa-dente-de-capuz, uma belíssima espécie, com área de ocorrência restrita ao Maranhão e arredores e que não costuma facilitar muito para os fotógrafos de plantão. 

No mesmo local, imóvel, na expectativa do aparecimento da maior entidade daquelas matas, fizemos o segundo lifer da viagem, o barbudo-rajado-pequeno, outra espécie ainda mais restrita que a primeira e não menos bela. 

 

Malacoptila minor
Para um leigo como eu, pareceu-me idêntico ao "nosso" barbudo-rajado

Apesar de todo esforço e dedicação do Luis, o sonho ficou para depois.


No dia seguinte seguimos com o Thiago Rodrigues para a realização de uma passarinhada que estava programada há meses e que há anos estava em meus planos. 

Começamos o festival de lifers com o furriel-do-norte. Rumo às 1200!!!

Caryothraustes canadensis


A maria-pechim foi uma daquelas espécies que identificaram erroneamente e que acabou sendo corrigida, depois de anos, por um moderador do Wikiaves. 

Pra mim é realmente muito difícil a identificação de alguns gêneros, como é o caso do dela. Então dependo sempre da ajuda dos experts.

Mas na companhia de três feras, Thiago, nosso guia, e os ornitólogos e parceiros de longa data, Guilherme Serpa e Clézio Kleske, essa maria não me escapou, apesar de estar em meio a um grande bando misto que pintou quando já retornávamos da primeira trilha do dia.

Myiopagis gaimardii, espécie de número 1190


Da trilha fomos direto pra casa do Thiago, onde o rabo-branco-do-maranhão tem frequentado.


Phaethornis maranhaoensis

Mesmo com o sol a pino, o pequeno beija-flor pintou e, depois de algumas fotos, aquela parada obrigatória para o almoço e sua respectiva sesta, afinal, até os passarinhos descansam nessas horas mais quentes do dia.


À tarde saímos com a nada fácil missão de fotografar um dos pica-paus mais raros, belos e difíceis do Brasil, o sensacional pica-pau-da-taboca.

Em perigo de extinção devido ao desmatamento, ficou 80 anos desaparecido, sendo reencontrado somente em 2006, no estado do Tocantins.

Seu nome popular vem de sua dependência de um tipo de bambu (taboca) que abriga algumas poucas espécies de formiga das quais se alimenta.

Tabocal

Encontramos uma família nesse tabocal. 

Tenazmente nos embrenhamos, tentando em vão algum registro. 

Era um tipo de cerrado muito fechado, achar uma "janela" era quase impossível. E além de tudo os bichos eram ariscos. 

Depois de muita luta, desistimos e partimos para outro ponto desse que era um dos "cabeças" da minha lista. 

No outro ponto, que era mais aberto, obtivemos sucesso com um jovem que facilitou bastante, permitindo uma boa aproximação.



Momento da foto
Crédito: Thiago Rodrigues

Apesar da luz não estar lá essas coisas (como dá pra ver na foto acima que se avista o pica-pau bem sombreado), fiquei muito satisfeito com o registro dessa raridade de nosso Cerrado, conquistado graças à dedicação e perseverança do nosso guia.

O Thiago me informou que a ciência desconhece os hábitos reprodutivos dessa fantástica espécie. Nunca encontraram um ninho!!! 

Também afirmou que nunca tinha visto um jovem como esse fotografado, o que me deixou ainda mais satisfeito. 

Uma das coisas mais legais da nossa atividade é a oportunidade de poder colaborar com a ornitologia (através do site de ciência-cidadã Wikiaves onde esse indivíduo ilustra o jovem na página da espécie, p. ex.).

Celeus obrieni

Antes do Thiago encontrar o colaborativo jovem, um adulto pintou, com a cautela e o penacho que o jovem ainda não adquiriu.


Verdadeira ginástica para vencer a brenha e a desconfiança do adulto
Foto: Thiago Rodrigues

Muita edição para tentar vencer a escuridão e mostrar um pouco da beleza da sp

Após o Serpa e o Clézio conseguirem um lifer que buscavam próximo ao local que fotografamos o raro picídeo, finalizamos esse primeiro dia com chave de ouro.


Para o segundo dia tínhamos mais uma nada fácil missão, fotografar outro top 5, a rara e pouco acessível araponga-do-nordeste.

Habitando os galhos mais altos e sendo um bicho muito perseguido pelos gaioleiros, essa araponga também deu muito trabalho. Lembrei-me novamente da recente viagem a Pernambuco, onde ela também ocorre, mas não a encontramos. 

Procnias averano, fêmea


Infelizmente, o macho com sua incrível barbela ficou para uma próxima, a despeito de todo esforço para encontrá-lo.

Durante as buscas ao macho da araponga, encontramos outro lifer, o sebinho-de-penacho, interessante e minúsculo passarinho que possui penacho mas que hora nenhuma se "entopetou". 

Lophotriccus galeatus


À tarde fomos em uma área de Cerrado típico em busca de alguns lifers para o Clézio e de um "melhoralifer" pro Serpa. 

Rolou um lifer do Clézio, um mineirinho que comprovou sua tradicional hospitalidade nos recebendo muito bem, sem cerimônias, como nós mineiros gostamos.

Charitospiza eucoma


No dia seguinte partiríamos para nosso segundo e mais aguardado destino maranhense, os arrozais de Arari, palco da famosa sanazada, onde tudo começou, em 2015, com um primeiro contato do Thiago. 

Mas antes de partir, já no terceiro dia sob a batuta do nosso excelente guia, ainda tivemos tempo para o último lifer de Caxias, o papa-taoca-de-belém, tinhoso como seu "primo" do sudeste.

Pyriglena leuconota, fêmea

Nesse mesmo dia também ralamos pra tentar fotografar o aracuã-de-sobrancelhas (que, com algum trabalho, não nos escapou em Arari). 


Mal chegamos em Arari e fomos direto ao que interessa, conhecer o arrozal mais top do Brasil, lar de uma incrível quantidade de aves típicas de áreas úmidas, como sanãs, saracuras, socós e socoís.

Enfim, Arari

Uma típica chuva de verão nos recebeu, criando um "boas vindas" que parecia prenunciar também a diversidade que testemunharíamos nos próximos dias.

E para começar com o pé direito, logo que adentramos o arrozal encontramos várias saracuras da que considero a mais bonita do Brasil. 

Pardirallus maculatus



Adultos, jovens e filhotes pareciam brotar da plantação.


Jovens da saracura-carijó




Lifer de número 1196, não percam a conta😆






O Thiago disse que essa era a saracura mais comum por lá. 

Que notícia boa...




Como se já não bastasse para um fim de tarde esse show da carijó, pintou ainda uma das sanãs mais aguardadas e talvez a mais bonita (a concorrência é grande), a sanã-amarela, que me surpreendeu também pelo tamanho. Pensa num bichim pequeno... Os extremos na Natureza sempre me fascinaram. 

Encontramos outras, mas para manter a fidelidade à sequência dos fatos, essa foi a primeira que fotografamos.

Laterallus flaviventer

Pelas fotos não dá pra ter noção do seu tamanho, mas toda essa belezura aí cabe nuns 13 cm!

Essa aqui embaixo foi fotografada na manhã do dia seguinte e mostra os longos dedos adaptados para o forrageio em ambientes aquáticos, onde caminha procurando pequenos grãos, artrópodes e insetos.





E as emoções não terminaram por aí. Foi um primeiro dia extasiante!!! 

A luz esvaia-se, fato que, nas passarinhadas, sempre me causa certa melancolia. Mas não quando temos alguns bacuraus em vista, e o Thiago nos levou em um ponto certeiro do próximo lifer, o bacurau-de-cauda-barrada.

Nyctiprogne leucopyga


Primeiro dia acordando em Arari. Quatro e meia da matina e já estávamos de pé, cheios de disposição! Nada como fazer o que se gosta, né? 

E logo bem cedo encontramos o lifer de nº 1199! 

Outro bicho que curto demais, o fantástico socoí-amarelo. 

Ixobrychus involucris

A mesma foto, com e sem crop.



Há pouco tempo tinha registrado o socoí-vermelho ("primo" do socoí-amarelo) também com o Serpa no interior daqui do Rio. Bicho tinhoso, deu muito trabalho. Em setembro o encontrei em Pernambuco, com meu primo e compadre Durvalzinho, mas só consegui ver um vulto em voo (vide último post do blog). Mas quando se tem uma infinidade de ambiente e bichos, as possibilidades se multiplicam. 

O primeiro encontro foi assim, bem distante, mas vários outros rolaram, para nossa alegria. 

Sou fã desse bicho, que não costuma ficar exibindo sua extraordinária beleza.











A cada encontro, uma nova emoção 





E alguma hora, a sorte sorri para quem persevera

Bem amigos, quis o destino que a 1200ª espécie fotografada nesses quase 14 anos de atividade fosse a rainha do paraíso das sanãs! Espécie que praticamente alçou Arari como um dos destinos mais famosos do birdwatching nacional, já que quase todos os registros realizados no Brasil foram feitos em seus imensos arrozais.

Reza a lenda que é uma espécie difícil (fama que compartilha com suas congêneres), mas os muitos anos de experiência do Thiago fez com que, em instantes, a sanã-preta desfilasse em um teatro estrategicamente montado, para delírio de uma plateia de privilegiados. 

E assim me despeço, com a imagem desse fantasminha do extremo norte brasileiro, agradecendo a Deus pelo privilégio de ter nascido numa terra cuja natureza é ímpar, e ainda resiste, apesar de séculos de exploração colonialista.

Laterallus jamaicensis



domingo, 17 de setembro de 2023

Uma grande aquisição para nossa tribo (Parte final)

 Ave amigos!

Mais do que um relato de viagem, esse post é também sobre nossa tribo, e essa viagem demonstrou muito bem o que costumo dizer, a nossa tribo é a melhor!

Através do site que reúne a tribo dos observadores de aves, o Wikiaves, entrei em contato com dois colegas, sendo que um deles vocês já conheceram, o Gustavo, gente boa demais! O outro colega, o Luiz Catende, é o maior observador de Pernambuco, nas palavras do próprio Gustavo. 

O Luiz foi sensacional! Além de profundo conhecedor das aves e das áreas naturais de Pernambuco, é um agregador, mobilizando colegas que conheciam as espécies que procurávamos em seus municípios.

E confirmando o que afirmamos, os colegas foram sensacionais, nos acompanhando e se dedicando ao máximo para que conseguíssemos registrar as espécies que procurávamos.

Nosso primeiro destino foi Taquaritinga do Norte, terra do grande observador Murilo Nascimento e limite leste de ocorrência da jacucaca (Penelope jacucaca), espécie vulnerável à extinção que infelizmente não pintou, apesar de responder ao playback e de todos os esforços envidados pelo dedicado Murilo, a quem agradeço novamente.

Murilo ajudando nas buscas pela codorna-do-nordeste

De Taquaritinga do Norte seguimos até Santa Cruz do Capibaribe onde encontramos com mais um membro da nossa tribo, o grande Almir Neves, que nos levou até uma área de Caatinga muito legal onde ocorre a codorna-do-nordeste (Nothura boraquira).


Da esquerda pra direita, Almir, Murilo, eu, Durval e Luiz, na área da codorna

Apesar de todos os esforços, a história da jacucaca se repetiu com a codorna-do-nordeste. Embora muitas buscas, só conseguimos ouvi-la distante.

De qualquer forma, conquistar lifers é só a cereja do bolo, o bolo em si tem muitos ingredientes: como o contato com a Natureza, a emoção da "caçada", conhecer lugares e culturas diferentes, e conhecer colegas que falam a mesma língua e coabitam o mesmo mundo, o mundo das aves.

Como costumo dizer, é um dom ser passarinheiro num mundo onde muitos estão perdidos.

Despedimo-nos do Murilo e do Almir, agradecendo-os imensamente pela disponibilidade e disposição em nos ajudar e por nos apresentar a Natureza da região.


Partimos então para Catende, terra do grande Luiz.

Luiz e o momento que fizemos o lifer do dia

Ferreirinho-de-testa-parda (Poecilotriccus fumifrons)

Logo no começo da trilha que acessa uma mata com ares de Amazônia fizemos esse simpático lifer



Mata muito imponente com sub-bosque relativamente limpo
Foto: Durval Bruzzi


Já falamos sobre isso da primeira vez que visitamos o C.E.P.. Há componentes florísticos e faunísticos comuns com a Amazônia na Mata Atlântica de lá, o que indica que um dia aquela floresta poderia ter sido contínua à Hileia.

Um exemplo disso foi outra simpática espécie que é abundante no local, a maria-de-barriga-branca (Hemitriccus griseipectus):

Sp. que ocorre somente na Amazônia e no Centro de Endemismo Pernambuco

A ideia inicial era irmos à RPPN Frei Caneca, numa cidade vizinha, mas devido ao mal tempo e às péssimas condições da estrada, resolvemos conhecer esse incrível fragmento na terra do Luiz, a quem agradeço mais uma vez por todo o apoio.


Depois de nossa ida à Catende, ainda fomos em Ipojuca (famoso por abrigar uma das praias mais famosas do país, Porto de Galinhas) atrás da garça-caranguejeira, espécie originária do Velho Mundo e bastante rara por aqui, contando com poucos registros no Nordeste.

Não encontramos a ilustre garça, mas curtimos uma praia maravilhosa com esse casal que muito bem me recepcionou durante essa inolvidável semana em terras pernambucanas.

Muito obrigado meus queridos primos!


E para finalizar, um flagrante legal que rolou em Ipojuca, no alagado onde procurávamos a garça-caranguejeira. 


Duas freirinhas pareciam que brincavam



sábado, 16 de setembro de 2023

Uma grande aquisição para nossa tribo (Parte 1: Gravatá/PE)

 Tudo começou quando éramos muito jovens, uns 30 anos atrás. 

Durvalzinho, apesar de mais novo, era o único amigo que curtia ir a campo atrás das rapinantes comigo. Na verdade, Dudu sempre gostou de tudo quanto é bicho. Seu pai, Durval Pitombeira, o Durvalzão, era caçador e pescador dos brutos. Hoje sabemos que muitos grandes observadores foram caçadores ou gaioleiros. Só uma questão de cultura mesmo, que avança seguindo a marcha inexorável da evolução. Pois sabemos também que o gosto pelo contato com a Natureza é algo em comum e que a cada dia novos adeptos da observação deixam vetustos costumes e entram para uma nova e mais interessante fase. 

Realmente é muito mais legal eternizar e compartilhar, do que um duvidoso prazer em por fim a uma vida. 

Foi o caso do Durvalzão, que hoje é um grande informante para mim, trazendo novidades da nossa querida cidade. Foi ele que descobriu, por exemplo, a coruja-orelhuda, que foi um lifer muito festejado, diga-se de passagem.

Fato é que, muito além dos laços familiares, a nossa afinidade deve ser de outras vidas. Compartilhamos muito além do gosto pela Natureza, compartilhamos inúmeros momentos que fizeram parte da minha história, como a primeira vez que vi a lua, a primeira pescaria na zona proibida do rio Piracicaba (no fundo do quintal em comum), a primeira viagem sozinho (quando eles moravam em Itabirito), entre muitos outros. Fato é que gosto demais desses Pitombeiras! 

 

Dudu e os gravatás de Gravatá


PRONTO! Convite aceito! 

Apesar dos ventos não estarem muito a favor, dei meu jeito e lá estava eu, indo conhecer o agreste pernambucano e "batizar" mais uma vez esse meu querido primo, já que fui padrinho de casamento dele com a bela Isabela e agora seria a grande estreia do Dudu fotógrafo de aves, com direito a perfil no Wikiaves e tudo. 

Mas não foi a primeira vez que estive visitando Dudu em Pernambuco e nem que passarinhamos juntos depois de adultos. A primeira, em 2018, ele morava em Recife e vocês podem conferir aqui como foi: Centro de Endemismo Pernambuco (C.E.P.)

Agora, de volta a Gravatá, primeira cidade que ele morou em PE, pude conhecer lugares que somente imaginava através dos seus relatos cheios de entusiasmo e esperança, e que, felizmente, corresponderam às expectativas.

Com as passagens compradas, comecei a pesquisar no Wikiaves e descobri o grande observador de Gravatá, o Gustavo S. Oliveira, que pronta e muito gentilmente se dispôs a nos guiar, nos levando até uma exuberante mata, um dos dois pontos conhecidos da rara e ameaçada maria-do-nordeste em todo estado de Pernambuco, como ele nos explicou.

E foi batata! 

O bicho é residente, e ao contrário dos seus congêneres, é relativamente tranquilo.

Hemitriccus mirandae


Mas antes desse nosso esperado encontro (e para Dudu começar com o pé direito), fomos num comedouro em um sítio próximo dessa mata, onde podemos encontrar uma das aves mais belas do Brasil, a saíra-pintor. 

Tangara fastuosa







Essa saíra-militar (bastante abundante no sítio) parece que está batendo continência.


Tangara cyanocephala




Outro bicho legal que pintou foi o aracuã-de-barriga-branca. 

Ortalis araucuan



Aqui agradeço o Gustavo por todo apoio e disponibilidade, valeu demais meu amigo! É muito bom pertencer a uma tribo como a nossa, onde todo mundo se ajuda e a gente acaba ajudando todo mundo.


Dudu, Gustavo e eu num dos raríssimos fragmentos de Mata Atlântica do C.E.P.




Tínhamos dois dias antes da viagem que faríamos para Taquaritinga do Norte, então aproveitamos para explorar dois locais que Dudu falava muito pra mim. Um grande banhado próximo à sua casa e uma região que possuia bons fragmentos florestais.

O banhado e a explicação do arco-íris da bandeira de Pernambuco. Foram muitos, todos os dias


De cara, ao chegar num pequeno espelho d'água atrás de uma construção, vi uma ave voando assustada e escondendo-se na densa vegetação do brejo. Já fiquei encucado porque aquele vulto pareceu-me algo inédito, principalmente pelo tamanho e pelo formato, pois não se encaixava nas visões de saracuras, socós e anatídeos que eu conhecia. 

Então após alguma exploração dos arredores, onde encontramos uma boa variedade de aves típicas, comecei a colocar playbacks de lifers em potencial e qual foi a minha surpresa quando ouvimos, depois de alguns instantes, um socoí-vermelho! 

Foi a primeira vez que ouvi a vocalização daquela fantástica espécie, além de ter sido o primeiro registro para o município no Wikiaves e também o primeiro registro sonoro publicado pelo Dudu. E a melhor gravação que já ouvi dessa sp, como vocês podem conferir: https://www.wikiaves.com.br/5592448

No primeiro dia no banhado também tive o prazer de conhecer o seu João, profundo conhecedor dos passarinhos da região. 

Com mais de 60 anos, seu João é bruto!
Ou como dizem por lá, cabra arretado!



Aproveitei seu conhecimento para perguntar sobre outro "alvo" dessa viagem, o pintassilgo-do-nordeste (nem vou mais adjetivar as aves dessa viagem como rara, ameaçada, pois todos os bichos q procuramos por lá o são) e prontamente ele disse que num condomínio onde ele trabalha sempre os vê. 

Sem titubear, fomos ligeiros pra lá!

A hora era a pior, mas mesmo assim conseguimos um registro, a famosa "foto de lifer", que dedico ao seu João, que muito gentilmente nos levou ao local. 



Spinus yarrellii

Até voltamos no dia seguinte pela manhã, mas não o encontramos.


Retornando ao brejo, registramos várias espécies, como papa-lagarta-acanelado, carão, encontro, pica-pau-de-banda-branca, japacanim, socó-boi, saci, jaçanã, alguns anatídeos, dentre outros.

Sou fã desses papa-lagartas, são encontros sempre muito empolgantes




Com um breve assobio, seu João convoca a festa dos japacanins


Apesar de várias tentativas, o socoí-vermelho não deu as caras, mas Dudu disse que ia bolar um plano para conseguir a foto do bicho. Tenho certeza que conseguirá! Como costumamos dizer, Dudu é MacGyver!

Partimos então pra mata. 

Qualquer floresta de pé no C.E.P. é valiosa. Basta uma olhada nas imagens de satélite para ver o quão pouco restou da outrora pujante floresta.

De cara topamos com um beija-flor-de-costas-violeta, sp em perigo de extinção, que infelizmente não rendeu boas fotos. Continuamos adentrando a trilha e ouvimos uma maria-do-nordeste. Até então só se conheciam dois pontos dessa sp em Pernambuco, conforme nos informou o grande Gustavo.



Paramos à beira de um pequeno lago no meio da trilha que parecia um lugar interessante para tentarmos alguns playbacks. 

Da borda do outro lado do lago, num daqueles emaranhados típicos, veio o som do próximo lifer: tatac, tatac, tatac! 

Tum tum tum, respondeu de cá o coração!

-Dudu, Synallaxis costuma dar trabalho, mas vamos conseguir!!!



Synallaxis infuscata



Sou um otimista! E não é que na maioria das vezes dá certo?!

Em Gravatá, só o socoí-vermelho ficou na vontade. Mas a sorte não nos acompanhou em Taquaritinga...