O Parque do Zizo é uma RPPN criada pelos irmãos do Zizo, militante morto pela ditadura. Uma história muito bonita, comovente, de amor à natureza(convido todos a visitar o site e conhecer melhor esta grande história:http://parquedozizo.com.br/wp/).
O Chico, irmão do Zizo, é um ex-caçador que virou ferrenho defensor da natureza e está a frente deste nobre projeto que conta com a ajuda de outros membros de sua numerosa família.
Marcelo, o irmão caçula, conheci neste retorno. Ele é o atual responsável pela cozinha e aproveito o ensejo para parabenizá-lo mais uma vez, uma das comidas mais deliciosas que já experimentei. Além de excelente "chef", o Marcelo é um sujeito sensacional! Assim como o Chico, é gente nossa!
O grande chef Marcelo preparando nosso desjejum na cozinha do Zizo |
Bem, antes de continuar, vou contar pra vocês uma história rápida, de como minha ansiedade me deu uma sorte danada.
Esta viagem foi programada com muita antecedência e já há alguns anos venho sonhando com o Parque do Zizo. Naturalmente acordei muito mais cedo que o despertador e cheguei cedo ao aeroporto, afinal mineiro num perde nem trem, quanto mais 'vião!
No check-in me ofereceram um voo uma hora mais cedo, que aceitei.
Quando acabo de desembarcar em Congonhas, a Infraero informa que o Santos Dumont(o aeroporto que peguei o voo) estava fechado por motivos meteorológicos!
São Pedro, mais uma vez muito obrigado!
O grande Paulo Batista e seu filho, o Gabriel, estavam me esperando no aeroporto. Conheci o Paulo e o Gabriel no Zizo mesmo, há quatro anos, e após uma saída com a gente, o Paulo virou passarinheiro de mão cheia e o Gabriel nem se fala, tem talento pra coisa!
Fomos para Campinas, onde encontramos com o Geiser e seu pai, o Sr. Ari, gente fina demais! E dali partimos para nosso tão aguardado destino.
Antes mesmo de chegar ao Zizo, num eucaliptal, tive a sorte de encontrar um gavião-de-sobre-branco pousado, espécie rara e bela de acipitrídeo que até então só havia encontrado voando alto, no próprio Parque do Zizo, das primeiras vezes que lá estive.
Gavião-de-sobre-branco Não só eu, mas todos começamos com o pé direito |
Assim que adentramos em áreas do Parque, numa área mais aberta, relativamente pouco explorada, o Geiser já mostrou pra que veio.
Aviso! O paraíso começa aqui e é intocável |
Como sempre, fiz uma lista de lifers após pesquisa no Wikiaves e na Taxeus, e enviei pro Geiser. Assim que chegamos neste lugar, o Geiser já falou que o local era promissor para a esquiva choquinha-carijó, belo exemplar de uma das minhas famílias favoritas.
Surpreendentemente não demorou muito pra ela se expor e dar um mole danado |
Continuamos adentrando aquele paraíso e a emoção de voltar àquele lugar aumentava a cada cenário de sonhos que se descortinava, a cada curva, a cada lembrança.
Estava tudo lá, as imponentes árvores ornadas de bromélias, epífitas, líquens e afins, os belos samambaiuçus, o imponente som do corocochó, o mirante dos Gavião, o pórtico depois da ponte sobre o rio Ouro Fino...
Naquele momento agradeci a Deus a oportunidade de retornar e ao Chico, por cuidar, manter e nos receber no sensacional Parque do Zizo.
Mirante dos Gavião, Mata Atlântica até perder de vista |
Agradeço ao grande Gabriel pelos meus registros no Zizo |
Com muita alegria fomos recebidos na sede pelo grande Chico, que logo nos apresentou ao não menos nobre Marcelo, irmão caçula do Zizo.
Outro que também nos recebeu e que pudemos desfrutar de sua companhia todos os dias, o dia inteiro, foi este simpático e acrobático pula-pula-ribeirinho.
Nosso amiguinho emplumado |
Após quase quatro anos, enfim matei uma grande saudade.
O Parque do Zizo foi um lugar muito especial pra mim pois foi meu primeiro grande destino como fotógrafo de aves.
À esquerda os alojamentos, à direita a cozinha e o almoxarifado, e em primeiro plano uma cara de felicidade |
Bem, para quem ainda não conhece, o Parque do Zizo é uma RPPN incrustada no maior remanescente de Mata Atlântica. A sede é cercada de mata primária e você não precisa sequer sair dela para encontrar aves fantásticas. Só para vocês terem uma ideia, da sede já foram vistos gavião-de-penacho, jacutinga, pica-pau-de-cara-canela, caburé-acanelado e até um provável uiraçu-falso!
Nesta viagem fiz 7 lifers na área da sede, o arapaçu-escamado-do-sul, o picapauzinho-verde-carijó, o bem-te-vi-pequeno, o piolhinho-chiador, a maria-pequena e os festejados papa-formiga-de-grota e falcão-relógio.
E o que dizer do comedouro? Aproveite o inverno pois é a alta temporada dele.
O muito bem frequentado comedouro do Parque do Zizo |
O belíssimo e esquivo sabiá-coleira |
O comedouro do Parque do Zizo é uma atração à parte, ótima opção de sesta(afinal, quem vai dormir num lugar desses) e de quando a famosa garoa inverna no Parque.
A espécie que eu mais queria fotografar no comedouro era o sabiá-coleira, pra mim o sabiá mais bonito do Brasil, espécie florestal e arisca, nada fácil de fotografar. No período que fotografamos no comedouro este sabiá foi uma única vez e só por alguns instantes, mas o suficiente para fazer registros à altura de sua beleza.
Alguns outros registros propiciados pelo comedouro:
Tietinga |
Catirumbava e sanhaçu-de-encontro-azul |
Tecelão |
O Parque do Zizo ainda conta com 35 km de trilhas, onde já foram registradas, em armadilhas fotográficas, antas, catetos, jaguatiricas, onças-pardas e até uma onça-pintada.
Fizemos uma pequena parte delas, onde registramos aves raras e ameaçadas, sendo seis lifers(papo-branco, gavião-miudinho, chocão-carijó, tovaca-campainha, limpa-folha-ocráceo e andorinhão-de-sobre-cinzento), mesmo não estando numa época boa, pois no inverno as aves vocalizam pouco e a maioria não responde bem ao playback.
A tovaca-campainha e o papo-branco foram registrados a poucos metros da sede, no acesso à trilha dos passarinheiros. Encontrar o papo-branco tão próximo da sede surpreendeu até nosso experiente guia.
Ambas espécies são muito difíceis de fotografar e particularmente tenho uma história com elas.
A tovaca-campainha devo também ao Gabriel, que com seu talento inato descobriu a ave empoleirada e o papo-branco devo ao Geiser, que não desistiu e até se arriscou para que eu conseguisse o registro.
O ameaçado papo-branco ou choca-da-taquara, em seu habitat Único momento propício em dois dias de tentativas |
O belo corocochó, que junto com o tropeiro-da-serra, domina a paisagem sonora do Parque |
Barbudo-rajado secando as penas na sede do Parque |
Papa-formiga-de-grota, apesar de abundante, este foi o único momento que colaborou um pouco para fotos |
No meio da trilha e a um palmo do chão, o belíssimo tangará dançarino |
Bico assovelado, mais uma ave intrigante do time das nada fáceis de fotografar |
Dos vários lifers muito especiais, o do raro gavião-miudinho se destacou.
Estávamos chegando ao mirante dos Gavião, com a intenção de aproveitar o dia de sol para registrar as aves de rapina que costumam pegar as térmicas das últimas horas da manhã, quando o Geiser nos alertou que havia um gavião pousado no mirante!
Quando bati o olho pensei que fosse um gavião-carijó, que apesar de não ser o habitat, já foi registrado próximo à sede. Mas quando vi pela lente, percebi que não se tratava do carijó e aí a adrenalina rolou solta: caraca, é um gavião florestal!!!
Após alguns clicks o bicho nos sobrevoou, sumindo na mata densa.
Na hora, o Geiser identificou como sendo o gavião-miúdo e eu até concordei, mas depois, pensando melhor, lembrei que não teria como ter confundido o gavião-miúdo com o gavião-carijó, os shapes são muito diferentes, o Accipiter striatus é muito mais delgado, cauda longa e a cabeça não é arredondada. Então só me restou o A. superciliosus, que também não possui os calções escuros. Tentei chegar a um consenso, mas retornamos para nossas casas sem um.
Depois, confirmei com o grande especialista Pallinger e o Geiser também, depois de ver a foto no computador, confirmou. Um tempero a mais para um super lifer!
A distância e as duras sombras de um dia de sol dificultaram uma imediata identificação |
Nesta nossa última manhã ainda fiz um lifer muito legal no mirante, o chocão-carijó, e ainda encontramos o lindo gavião-pombo-grande e o raro gavião-de-sobre-branco. Só faltou o gavião-pato para fecharmos com chave de ouro o mirante. Fica pra próxima!
"Ave de copa" e difícil de fotografar, o chocão-carijó foi registrado à altura dos olhos devido á topografia do lugar |
Estar num local como esses é um verdadeiro privilégio, é estar em um mundo perdido, criticamente ameaçado de extinção, que tem o poder de renovar nossas forças e a esperança de que o futuro não é tão sombrio quanto parece.
Geiser, Marcelo, Chico, Gabriel e Paulo Batista Muito obrigado amigos! |
Para quem quiser conhecer e admirar mais da natureza do Parque do Zizo, sugiro o ótimo livro sobre a Mata Atlântica do excelente fotógrafo Octávio Campos Salles: http://kaaete.com.br/ que capturou cenas fantásticas da flora e da fauna do Parque, além de contar com um texto realmente interessante, educativo e enriquecedor.
Mais fotos minhas de todas as viagens que já fiz ao Zizo podem ser acessadas aqui: https://www.flickr.com/photos/joaosouza/sets/72157626663345495
Grande abraço e até a próxima meus amigos!
Triplamente deslumbroso! O Zizo, as aves e a sua narrativa! Parabéns por mais esse post cativante.
ResponderExcluirTriplamente agradecido, Mestre!
ExcluirLegal João, é bom saber que ainda há lugares como esse de mata atlântica exuberante protegia e conservada. Parabéns pelas fotos e por contar sua história afetiva com o local! Deu vontade de visitar. Grande abraço!
ResponderExcluirSou completamente apaixonado por aquele lugar, Cristiano!
ExcluirObrigado e abração!
Ah, e obrigado pelo apoio meu amigo!
ExcluirUm bom relato e boas fotos só faz dar vontade de marcar viagem amanhã pro Parque Zizo. Mt bom.
ResponderExcluirO COA/RJ podia armar uma viagem pro Parque.
Muito obrigado, Lena!
ResponderExcluirAcho uma excelente ideia a da expedição, se puder, vou junto.rs
E se precisar de alguma ajuda para organizar, pode contar comigo.
Abração!