Chegamos em Caetité bem tarde, mas em tempo de acharmos um hotel. Quase cem quilômetros inesperados de estrada de terra trapacearam nossas estimativas.
Foto: Wagner Nogueira |
Paramos o carro numa estrada que cortava um fragmento de Mata Seca, ecossistema totalmente desconhecido para mim. Chamou-me atenção o quão seca era aquela mata, realmente muito feliz a denominação desse ecossistema.
A Mata Seca |
A estrada era uma reta com tênue aclive. Na sua parte mais baixa podíamos ver ainda algumas folhas, mas poucos metros de subida a paisagem se tornava essa que vocês podem ver acima, desprovida de qualquer verde.
A Mata Seca da parte menos elevada do terreno, onde algumas folhas conseguem sobreviver Foto: Wagner Nogueira |
Fato é que aquela paisagem aparentemente desértica não condizia com a quantidade e variedade de aves que achamos.
A primeira impressão é a que fica, e não podia ser melhor, foi descer do carro e dar de cara com um bando misto.
Para quem nunca esteve na Mata Seca, um festival de lifers!
Choca-do-nordeste(Sakesphorus cristatus), abundante e linda |
Nesse bando misto já cliquei o arapaçu-de-wagler(lifer), bico-chato-amarelo, guaracava-cinzenta, sebinho-de-olho-de-ouro e a lindíssima choca-do-nordeste, uma das que mais queria fotografar.
Logo em seguida o Wagner ouviu o tico-tico-do-são-francisco, outra espécie que estava na minha lista de favoritos desta viagem.
Tico-tico-do-são-francisco(Arremon franciscanus) |
À medida que subíamos a estrada, os lifers iam pipocando: pica-pau-ocráceo, balança-rabo-de-chapéu-preto, o extraordinário e arisco bico-virado-da-caatinga; entre espécies muito legais já conhecidas, como pica-pau-de-topete-vermelho, picapauzinho-anão, garrinchão-de-bico-grande(deverá ser reconhecido como novo taxon), bico-reto-de-banda-branca e sem falar no piu-piu e no torom-do-nordeste que apesar de vocalizarem, não deram as caras.
Pica-pau-ocráceo(Celeus ochraceus) |
Garrinchão-de-bico-grande(Cantorchilus longirostris bahiae) |
Continuava extasiado com aquele contraste! Como que uma vegetação aparentemente sem vida sustentava tantas espécies?!
Já estávamos retornando, descendo a estrada em direção ao ponto mais baixo da Mata Seca, quando o Wagner me chamou atenção para uma ave interessante que ele detectara.
Em instantes fui apresentado a um xará que nunca tinha ouvido falar, o joão-de-cabeça-cinza(Cranioleuca semicinerea). Um daqueles momentos impagáveis!
João-de-cabeça-cinza |
Ser apresentado desta maneira a uma espécie até então desconhecida, após mais de 5 anos estudando, viajando e fotografando nossas aves, é uma experiência sensacional! Nosso país é fantástico! Ornitologicamente falando.
E não foi a única! Apesar do Wagner já ter me preparado para ela, nunca tinha ouvido falar desta ave, sua espécie favorita, o cara-dourada(Phylloscartes roquettei).
O Wagner observou que a parte mais baixa daquela mata era o habitat típico deste pequeno passeriforme. E após algumas tentativas de atração, eis que para alegria de todos surge o cara-dourada!
No início lá no alto, depois desceu um pouco, mas o Wagner me disse que quando está pareado chega até ao nível dos olhos. Mesmo assim fiquei satisfeito.
Vê-se algum verde no habitat do raríssimo cara-dourada(Phylloscartes roquettei) |
Formigueiro-do-nordeste(Formicivora lheringi), na única oportunidade para foto |
Nesse mesmo trecho outro festejado bicho apareceu! Lifer para nós, o belo formigueiro-do-nordeste infelizmente não amaciou o jogo e nos venceu pelo cansaço, pois já estávamos de partida, para mais uma longa e desconhecida jornada, rumo à minha Minas Gerais, rumo ao Espinhaço Central.
Foto: Wagner Nogueira |
Agradecimento especial ao ornitólogo Ciro Albano que compartilhou as indicações de áreas a serem visitadas em Caetité e na Chapada Diamantina em seu ótimo artigo "Birding in north-east Brazil, part 2: The vast state of Bahia".
Parabéns pelo superinteressante registro da viagem e, principalmente, pelos excelentes registros fotográficos.
ResponderExcluirClaudio Martins (COA-RJ)
Obrigado Cláudio!
ExcluirImportante mencionar que contei com as excelentes fotos panorâmicas do Wagner que enriqueceram e muito a parte documental e artística deste relato.
Abs
Oi João. Adorável relato. Caetité é especial, sem dúvida. O cara-dourada que o diga! Abraços
ResponderExcluirObrigado, Mestre!
ExcluirBacanérrimo! Por mais de três ocasiões estive perto de chegar lá. Está no roteiro. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado primo! Pode ir que não tem erro!
ExcluirAbs
João meu amigo, que lindo relato, este lugar me deixou com água na boca, rsrsrsrs.
ResponderExcluirParabéns pelas fotos.
Abraços
Daniel Santos.
Obrigado meu grande amigo!
ExcluirPor que um texto tão curto? Fiquei com a sensação de ter visto um lifer mas não ter conseguido fotografá-lo... Rsrsrs
ResponderExcluirPara q as pessoas não tenham preguiça de ler.rs Hoje em dia há tanta informação e tão pouco tempo...
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