sábado, 23 de agosto de 2025

No Jamacá das Araras

 Ave, amigos!

Tudo começou em janeiro desse ano, quando juntei meus três grandes parceiros de passarinhadas, daqui do Rio e de Minas, Guilherme Serpa, Tavinho Moura e Sica Dantas, para planejarmos uma excursão ornitológica ao infelizmente castigado estado de Mato Grosso. 

Realmente é triste ver aquelas imensidões devastadas...

Apesar de tudo, alguns heróis da resistência preservam por lá cantinhos do paraíso para desfrute daqueles que possuem o dom do maravilhamento pela Natureza. E creio ser um dom mesmo, que nos transcende, principalmente ao ver tanta gente que nem zumbi, viciada em dinheiro, poder, enfim, essas coisas mundanas.

Bem amigos, esse post irá também celebrar pessoas que usaram esse dom para "fazer a diferença".

 Perdoem-me o clichê, mas precisamos muito de novas mentalidades para mudarmos o status quo suicida vigente.

E quanto àqueles que só veem lucro e morte onde a vida pulula, presos aos instintos que lhes aferroam a alma, impedindo-os de vivenciar as claridades fulgurantes da Natureza, só lamento suas mediocridades enquanto festejo com os que a ambição não obscureceu o espírito.

Chapada dos Guimarães/MT

Nosso primeiro destino, município de Chapada dos Guimarães, onde se situa o famoso Jamacá das Araras, pedaço do paraíso que o grande Mario cuida de cada detalhe com todo carinho. 


Jamacá das Araras
Foto: Mario Friedlander

Seu cuidado é extremo e só perdoa as antas, quando algo é danificado por lá. Apesar de serem muito bem alimentadas, ainda insistem em "podar" pequenas árvores em crescimento, enquanto pés de mamão são devorados literalmente até o caule. Afinal de contas, são as "jardineiras da floresta" e só exercem perfeitamente o seu papel, como tudo na Natureza.

As maiores atrações do Jamacá são realmente esses seres maravilhosos que vivem ao seu redor, em suas belas matas preservadas, e que, acostumados com o Mario, saem da proteção da densa floresta e fazem a festa de seus privilegiados visitantes. 

O mais famoso é o Dudu, na verdade uma fada que vive nos recônditos escuros da floresta e que graças ao Mario, literalmente comeu na minha mão. Momento que infelizmente não foi captado, mas há testemunhas comprobantes da peripécia.

O Dudu é o rei do lugar, mas não é o único, há dias que seis fadas pintam ao mesmo tempo, deixando estupefatos todos os presentes. 

Mas antes de apresentá-los ao Dudu, vale mencionar a recepção que tivemos assim que chegamos ao Portão do Inferno, lugar impressionante que é como um "boas-vindas" da Chapada, quando a planície se interrompe perante belíssimos rochedos esculpidos por milhões de anos de trabalho incessante da Natureza.

Foto: Mario Friedlander

Fomos honrados nesse lugar fantástico com a presença de uma família real, contando com o rei, um príncipe e seus séquitos, que os veneravam, assim como nós.




Sarcoramphus papa





O famoso e querido Dudu











Outro habitante de nossas matas que praticamente só é ouvido e que na Jamacá podemos encontrar "no limpo" é o inhambu-chintã. 

Apesar de relativamente comum onde as florestas são preservadas, é muito arisco. 

Demorei muitos anos para conseguir foto dessa espécie, que infelizmente está na mira de caçadores, o que justifica seu receio em se expor.



Crypturellus tataupa





E não podíamos deixar de registrar a anta, bicho impressionante! 

Foto de celular, sem zoom

Enquanto as antas se esbaldam a noite, de dia são as cutias que competem com os inhambus e jaós (este último infelizmente não deu as caras durante nossa breve estada).



E, claro, não podia faltar a arara, afinal, dá nome ao lugar, que também poderia se chamar Jamacá dos Dudus, das Antas, Cutias...


Enquanto as tenébrias atraem os udus e o milho, as antas, as araras matam a sede numa cavidade natural de uma árvore que é estrategicamente abastecida do precioso líquido, principalmente na época seca.

Até uma pequena torre foi construída para ficarmos mais bem posicionados.

Estávamos lá, sentados, conversando até, esperando algo acontecer, porque não só as araras, mas várias outras espécies magníficas saciam sua sede naquela e em outra cavidade próxima também. 

Quando numa rápida olhadela, quem que como num passe de mágica estava lá?! Um casal de araras-vermelhas! Incrível como dois bichos daquele tamanho chegaram tão próximo sem nenhum barulho ou vestígio qualquer que denunciasse suas presenças! 

A Natureza não cansa de nos mostrar suas perfeições...











Ara chloropterus


 A Chapada dos Guimarães, apesar da forte influência amazônica, se encontra no bioma Cerrado, tanto que encontramos espécies típicas desse bioma, como soldadinho, meia-lua-do-cerrado, mineirinho, entre tantas outras. 

350 km nos separavam do nosso próximo destino, já no bioma amazônico, a também famosa Jardim da Amazônia, que ficará para uma segunda parte.

E por aqui vou ficando, com mais algumas fotos sensacionais da Chapada feitas pelo Mario e agradecendo-o pela hospitalidade, pelas fotos de sua autoria que ilustram esse post e pela dedicação à preservação ambiental, que atualmente se encontra em sérias dificuldades no estado do Mato Grosso.










Ave, Mario! Até breve!






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