A lancha cortou ligeira o Negro, diminuindo para apreciarmos mais uma vez o encontro das águas, dessa vez de pertinho, dando até pra tocar na água morna de ambos os rios. Naquele calorão como deve ser bão se banhar naquelas águas...
Logo após adentrarmos as barrentas águas do Solimões, encontramos o passarim preferido de Diadorim, o Manuelzinho-da-croa. Peço permissão ao genial Guimarães Rosa:
"Era o manuelzinho-da-croa, sempre em casal, indo por cima da areia
lisa, eles altas perninhas vermelhas, esteiadas muito atrás traseiras,
desempinadinhos, peitudos, escrupulosos catando suas coisinhas
para comer alimentação. Machozinho e fêmea – às vezes davam beijos
de biquinquim – a galinholagem deles. ‘É preciso olhar para esses com um todo carinho..."
Grande Sertão: Veredas
"Catando suas coisinhas" |
Mineiro do sertão, fui encontrar Manuelzim solimando |
Na mesma praia talha-mares e trinta-reis abundavam:
Talha-mar |
Trinta-reis |
Ainda embarcados registramos os dois iratauás, o pequeno e pouco depois o grande, grande momento de nossa expedição! (estávamos com sorte mesmo, esses iratauás não respondem playback e o grande ainda é arisco)
Iratauá-pequeno |
Iratauá-grande |
Aportamos na ilha da Marchantaria e o primeiro passarim a aparecer foi essa fêmea de pia-cobra "do norte", que aliás foi o único bicho conhecido que encontramos (mas nem tanto, pois essa subespécie é bem diferente):
Geothlypis aequinoctialis aequinoctialis |
Selfie na ilha |
Após vencermos uma vegetação rasteira que quase nos encobria, chegamos num local onde havia algumas pequenas árvores esparsas e onde também o Luiz já havia detectado a maria-preta-ribeirinha, bicho que não costuma atender playback. Ela estava distante, mas antes de resolvermos tentar uma aproximação, os lifers começaram a pipocar.
O primeiro a aparecer foi o mais raro, com pouquíssimas localidades no Wikiaves, o arredio-de-peito-branco:
Cranioleuca vulpecula |
Depois dois Synallaxis que ocorrem somente neste habitat nos desafiaram:
João-de-barriga-branca |
João-de-peito-escuro |
Este alegrinho-do-rio, um visitante esporádico, passou serelepe:
Serpophaga hypoleuca |
E, em mais um lance de sorte, a maria-preta-ribeirinha pintou num bom local para fotos:
Knipolegus orenocensis |
Muito satisfeitos, retornamos à lancha e seguimos para outro ponto da grande ilha em busca do formigueiro-preto-e-branco e da figuinha-amazônica.
O encontro das águas Nesta época os rios estão enchendo, no vai-e-vem anual das águas, a ditar a vida na Amazônia |
No ponto da floresta de embaúbas, habitat da rara figuinha-amazônica, o barranco ainda estava alto, impossibilitando nosso acesso à ilha. Mas dali mesmo, embarcados, com a ajuda do playback, o Luiz Fernando mostrou mais uma vez a que veio, garantindo mais este grande lifer:
Myrmochanes hemileucus |
Continuamos beirando a ilha, procurando a figuinha, mas sem sucesso. E quando já estávamos nos preparando psicologicamente para despedirmos daquele lugar fantástico, eis que encontramos uma maravilhosa águia-pescadora com sua presa, para fechar com chave de ouro nossa viagem!
Espero que a sequencia transmita um pouco de nossa emoção:
Bem amigos, finalizo este relato agradecendo à minha família, pois sem seu apoio esta viagem não seria possível, à companhia sempre agradável do casal de queridíssimos amigos Tavinho e Sica e ao competente e prestativo Luiz Fernando Carvalho, excelente guia de Manaus, que deixou sua vida no Rio Grande do Sul para também ser um grande apresentador das maravilhas que nossa tão ameaçada Amazônia guarda.
Agradeço também os barqueiros Fábio e Maurício e todo povo manauara que sempre nos recebe tão bem, fazendo com que a gente se sinta em casa.
Naquele lugar me sinto em meu habitat, em meio à natureza primitiva, de infinitas possibilidades. Se Deus assim me permitir, e com o apoio da minha família, pretendo continuar voltando todo ano à Amazônia, maior tesouro de todos nós brasileiros.
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