Essa viagem foi planejada inicialmente como comemoração do niver do meu querido tio Maninho, grande companheiro de passarinhadas em terras mineiras. Iríamos para seu lugar favorito, a serra da Canastra, mas atendendo ao seu caridoso coração, preferiu não ir, o que é digno de minha profunda admiração. Agradeço-o imensamente pelo carinho e atenção dispensados à nossa querida vovó Naná.
Nesse ínterim estava conversando com o grande amigo, meu irmão camarada, Wagner Nogueira, sobre o já dilatado tempo decorrido desde nossa última viagem. Foi então que ele sugeriu uma ida ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no extremo norte mineiro. A isca da vez foi o bacurau-do-são-francisco (Nyctiprogne vielliardi).
Com as folgas já agendadas, as passagens pra BH compradas e o estupefamento por ver somente três fotos (pouco reveladoras, diga-se de passagem) desse bicho no Wikiaves, não titubiei! Lá fomos nós em busca do críptico caprimulgídeo num dos mais longínquos sertões mineiros, região das Cavernas do Peruaçu.
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Vista de um dos mirantes do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu |
Mas antes fizemos uma escala em Montes Claros. O Wagner aproveitou para me apresentar uma futura nova espécie, que já nascerá ameaçada de extinção, o asa-de-sabre-da-mata-seca (Campylopterus calcirupicola). Ele conhece um ponto infalível dessa raríssima espécie no Parque Estadual da Lapa Grande.
Enquanto fotografava o raro beija-flor, pintou um lifer muito festejado! E ainda daquele jeito que é o melhor do mundo, inesperadamente.
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Papa-lagarta-acanelado, primeiro Coccyzus observado por este que vos fala |
Outro bicho bacana que pintou nessa breve visita a Montes Claros foi o tico-tico-do-são-francisco.
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Brenha é o que não falta na Mata Seca, e o ilustre Arremon não saiu dela |
Bem amigos, viajar com o Wagner sempre é um grande aprendizado, e um dos que mais curti dessa vez foi sobre a Mata Seca, ecossistema onde passaríamos quase todo nosso tempo.
Lembro-me das aulas da minha matéria favorita sobre uma floresta que perdia todas as folhas na época da seca, a Floresta Estacional Decidual (não me lembro de ter aprendido sobre a denominação "Mata Seca" naquela época). Mas só agora pude aprofundar um pouco meus conhecimentos sobre essa floresta incrível, muito ameaçada, alijada pelo poder público e praticamente desconhecida do nosso povo.
Até aquele momento só sabia que tal Floresta perdia completamente suas folhas durante a estação seca, e com o retorno das chuvas, na primavera, o verde brotava novamente, reiniciando o ciclo.
Os mapas que estudei no colégio não diferenciavam a Mata Seca do Cerrado, inserindo a primeira nos domínios do segundo.
Ledo engano, a Mata Seca, como pude presenciar in loco, está muito mais para a Mata Atlântica do que para o Cerrado. Aves como surucuá-variado, chupa-dente, gavião-de-penacho, nos remetem ao bioma atlântico. Árvores como jequitibá e jatobá, idem. E conhecendo tal Floresta na primavera, realmente não resta dúvida, aquela mata não tem nada a ver com o Cerrado.
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Foto: Wagner Nogueira |
Infelizmente, nas centenas de quilômetros que rodamos no seu domínio, alguns poucos fragmentos secundários, e até mesmo nas áreas de preservação, num passado não muito remoto, houve muito corte seletivo, mas ainda podemos encontrar alguns imponentes e centenários jequitibás.
Outro aprendizado que muito me surpreendeu foi sobre o tipo de solo que se desenvolve a Mata Seca, aliás, para minha completa surpresa, o solo é que define o ecossistema! O Cerrado, por exemplo, só se desenvolve sobre solo ácido, já a Mata Seca se desenvolve sobre solo calcário, básico, geralmente sobre afloramentos calcários.
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Floresta Estacional Decídua do PARNA Cavernas do Peruaçu |
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Sobre afloramento calcário |
Deixamos os montes já verdes da Lapa Grande e partimos para nosso destino final, Itacarambi, terra do Peruaçu e de muitos bichos legais!
Uma matéria de deixar qualquer Redator-Chefe de água na boca. Suas matérias são sempre excelentes e bem redigidas, leva a gente a viver a aventura como se lá estivéssemos. Obrigado pela loa a minha pessoa, apesar de nem tanto, mais é bondade sua. Parabéns pela excelente matéria.
ResponderExcluirObrigado Timá!
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