Foi com grande surpresa e muita satisfação que recebi um convite do Guto Carvalho para palestrar na maior feira de observação de aves da América Latina, o Avistar, que ocorre anualmente em São Paulo há 13 anos.
Viajei no tempo e lembrei-me de que só depois de muitos anos já observando as rapinantes descobri que haviam outros malucos como eu. Espantado descobri que até havia um clube deles!!! Era o COA-RS, que me foi apresentado pelo primeiro livro de aves brasileiras que tive, o "Aves Silvestres do Rio Grande do Sul", do William Belton. Algum tempo depois descobri que havia um COA na minha terra também, o COA-MG (atualmente ECOAVIS), através do "Aves Silvestres de Minas Gerais" do hoje amigo Marco Antonio de Andrade, na época discípulo do grande Helmut Sick.
Tempo de solidão e obscuridade...
Era inviável entrar em contato com esses clubes. Não havia imagens da grande maioria das nossas aves de rapina. Nas bibliotecas os livros traziam fotos de animais do Velho Mundo. Da nossa fauna só os icônicos eram raramente encontrados, como a harpia.
Foram décadas de observação sem ninguém com quem aprender, compartilhar as experiências. Foi a Idade Média de minha vida ornitológica.
Mas então, com o advento da revolução digital, novas luzes clarearam aquele horizonte sombrio! Comunicação e conhecimentos irrestritos iniciaram uma nova era.
Um novo mundo surgiu, um mundo onde somos automaticamente atraídos para lugares conforme nossas afinidades. Convencionou-se, como de praxe, utilizar o nome em inglês para esses lugares. E o primeiro "site" para onde fui atraído nesse novo mundo foi o "Wiki Aves". Era um lugar onde extraterrestres como eu não se sentiam tão excêntricos, muito pelo contrário, ali era nosso habitat virtual.
Foi o período das grandes descobertas, um verdadeiro Renascimento!
A grande maioria das espécies, que até então eram verbetes em velhas enciclopédias, ganharam forma numa profusão de fotos de vários birders espalhados pelo país. Descobri o meu lugar favorito naquele novo mundo e, o mais importante, encontrei outros que compartilhavam daquela minha paixão.
Camila, Alessandro Abdala, Reinaldo (criador do Wiki Aves), Nara , Márcia e eu |
Bem pessoal, quem diria que haveria uma feira nacional reunindo milhares de participantes e que aquele menino pequeno de Barbacena, digo, Rio Piracicaba, que saia solitário pro mato com binóculos a tira colo ainda estivesse nela, falando para pessoas de todo país?!
Trensão antes da palestra |
Mas assim que os novos e velhos amigos começaram a chegar aquele trensão passou |
Aí, já destravado, começaram vinte minutos de falazada ininterrupta Agradeço o registro do grande fotógrafo e amigo Alessandro Abdala |
Avistar é aquele lugar onde os perfis se corporificam e se "trombam". É o site nada virtual da nossa tribo. Todos falando a mesma língua, numa sinergia que faz a psicosfera do lugar a melhor possível.
Um dos raros ambientes populosos em que me sinto bem |
Os amigos Marcia e Jorge Pavani, que faz um excelente trabalho de conscientização em Roraima |
Com os brothers Clezio Kleske, Alessandro Abdala e Guilherme Serpa Foto: Camila |
Foram muitos melhores momentos (e quase não teve piores). Logo na chegada e com muita alegria percebi que a principal exposição de fotos do evento era a do meu grande amigo, premiado fotógrafo, professor e escritor Alessandro Abdala.
Eu e o Abdala com a premiada foto do urubu-rei, realizada em 2012 em nossa primeira e inesquecível expedição à Canastra, intitulada "Quando a chuva é uma aliada". |
O hotel do evento abrigou os palestrantes e muitos participantes. Dividi o quarto com um palestrante de peso, o ornitólogo André de Luca, que falou sobre um projeto muito legal, na Amazônia paraense. Foi um grande prazer conhecer pessoalmente esse fera da ornitologia, gente boa demais!
André de Luca, Ciro Albano e sua esposa, num happy hour no hotel |
Um dos projetos apresentados no Avistar que mais me chamou a atenção e que recomendo bastante é a Expedição Fotográfica Serra do Amolar, realizada pelos amigos Thomaz Lipparelli e Marcelo Calazans. Sofisticação e Natureza lado a lado, por um valor que me surpreendeu positivamente. Com certeza será um empreendimento de sucesso e que muito irá somar ao ecoturismo brasileiro! Parabéns meus amigos!
Grande prazer também em rever o amigo João Marcos Rosa, depois de anos dos eventos de lançamento do livro "Harpia"(fui em dois), nossos últimos encontros. Adquiri minha primeira lente com ele. É uma pessoa que, apesar de ser uma das estrelas da fotografia de natureza no Brasil, é um exemplo de simplicidade e simpatia, demonstrando que dá pra ser "o cara" sem ter que empinar o nariz. Assisti também à sua palestra. Parabéns pelo maravilhoso trabalho com as araras de Lear meu velho.
Foram muitos grandes momentos, os amigos bem sabem. A lista de encontros memoráveis foi grande demais por isso ficarei por aqui para não me estender demais.
Então é isso pessoal!
Avistar é mais do que um lugar para saber das novidades, encontrar velhos amigos, conhecer pessoalmente amigos virtuais e fazer novos. Avistar é a realização de um sonho! É saber que não estamos sozinhos e que tem pessoas que se interessam pelo que você ama.
Pena que, assim como nas passarinhadas, o tempo passa como as aves, e sempre saímos com aquela sensação que podíamos ter aproveitado muito mais.
Agradeço imensamente ao Guto Carvalho, pelo convite; à Márcia Carvalho, pela excelente companhia na viagem até SP; à Clarinha e D. Celi, pela grande ajuda na palestra; ao Alessandro Abdala, pelos ótimos registros; ao Wagner Nogueira, pelo apoio de sempre; ao Andre de Luca, pelo companheirismo; ao Luiz Ribenboim, pelas lembranças; à organização do evento, pela competência em lidar com as adversidades; e aos amigos, pelo carinho de sempre.
Vida longa ao Avistar!!!
Muito bom, João. Boa descrição do Avistar e sua atmosfera.
ResponderExcluirObrigado meu grande amigo!
ExcluirComo sempre um texto muito bom de se ler.
ResponderExcluirParabéns meu amigo!
Muito obrigado grande Celso!
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