quarta-feira, 11 de julho de 2018

Um visitante andino

Ave!

Após o adiamento, por questões meteorológicas, da grande saída pelágica promovida pelo grande Igor Camacho neste último final de semana e aproveitando o habeas corpus já deferido, entrei em contato com o ornitólogo Fábio Schunck sobre a possibilidade de me apresentar o raríssimo visitante dos Andes que ele descobriu há duas semanas na represa de Guarapiranga, região sul da capital paulista, afinal São Paulo é muito mais perto que "los Andes".

O mergulhão-de-orelha-amarela (Podiceps occipitalis) é uma espécie que ocorre em diversos países andinos, mas muito raramente visita o Brasil, considerado por isso uma espécie vagante, ou seja, que ocorre irregularmente em nosso país.

Conforme dados que o Fábio me passou, o primeiro registro dessa espécie aqui no Brasil foi em 2002, em Santa Catarina. Em Guarapiranga foi visto pela primeira vez em 2006 (primeiro registro para o estado de São Paulo), pelo próprio Fábio, e só esse ano foi visto novamente. No Wikiaves só temos 4 cidades com registro dessa espécie, duas em SP, uma no PR e outra no RS.

Vale ressaltar que o Fabio faz um levantamento das aves dessa represa há 18 anos e conhece cada palmo dela.

Represa de Guarapiranga, refúgio natural para centenas de espécies numa das maiores cidades do mundo



Dois outros lifers me motivaram ainda mais a fazer essa viagem que foi praticamente um bate-e-volta. Saímos de carro no sábado à tarde e retornamos no domingo, eu e Clarinha, que aproveitou para turistar na cidade que não para nunca.

Já na chegada, próximo ao pier de onde saímos, essas tranquilas irerês nos deram as boas-vindas

Outro belo anatídeo que estava se alimentando tranquilamente no local, marreca-cricri

Se antes de embarcar já rolou esses dois belos registros... dá pra imaginar que as expectativas eram grandes!

A maior delas: será que o mergulhão ainda estava lá?! O Fábio o observou dois dias antes, mas sabendo que a saída das aves é sempre "à francesa"...

Incrível que apesar da represa ser gigante, o mergulhão-de-orelha-amarela é sempre encontrado numa área específica, o que facilita sobremaneira nosso trabalho. Assim fomos direto ao local, e, para nossa grande alegria, ele estava lá!

O bicho é arisco, com seus mergulhos não nos deixava aproximar muito, mas com um pouco de paciência e grande técnica do nosso guia e barqueiro, conseguimos revelar um pouco da beleza exótica desse festejado visitante.

Mergulhão-de-orelha-amarela, que conforme Clarinha, tem olhos que parecem enfeitiçar

Esse olho é real!


Após o encontro principal, seguimos explorando a rica biodiversidade local. Só de marrecas foram contabilizadas dez espécies! Entre elas dois lifers, o marrecão e a marreca-colhereira. Só a andorinha-chilena que não rolou, precisaríamos de muito mais tempo para tentar identificá-la em meio a centenas que sobrevoavam a represa.

Logo após o encontro com o ilustre viajor, o Fábio achou o marrecão.

Por ser muito caçado é bicho arisco.


Da esquerda pra direita, a fêmea, o jovem macho e o macho adulto

Em meio a caneleiras, frangos d'água e pernilongos, os olhos treinados do Fábio detectaram a marreca-colhereira


Além da atual estrela de Guarapiranga e desses dois lifers, a grande quantidade de aves garantiu alguns registros legais.


A grande quantidade de caramujos sustenta uma grande população de gaviões-caramujeiros

D. R. pesada:



Êh lá em casa...


Guarapiranga também guarda a maior maternidade de biguás da capital

Encontramos três espécies de íbis, coró-coró, caraúna e esse da foto, o tapicuru 


Além do mergulhão-de-orelha-amarela, encontramos o mergulhão-caçador e o sensacional mergulhão-grande.


Mergulhão-grande



Onde está Wally?


A curicaca seria um íbis?


Também encontramos as raras carquejas de bico amarelo e de bico manchado, mas para não me estender muito vou ficando por aqui, apesar da grande quantidade de fotos que fiz nessa saída.

A carqueja-de-bico-amarelo também é arisca


A represa de Guarapiranga me surpreendeu! E ela vive surpreendendo, disse Fábio, "o cara" da Guarapiranga, a quem agradeço imensamente. Também agradeço o Marco Silva, da SAVE, que organiza as excursões de observadores. Apesar de ter resolvido ir meio que em cima da hora, ambos foram muito solícitos e deram um jeito de me encaixar nessa saída (e olha que encaixar 1,90 m e 115 kg num barquinho não é fácil heim?). Valeu demais meus amigos!


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