Após o adiamento, por questões meteorológicas, da grande saída pelágica promovida pelo grande Igor Camacho neste último final de semana e aproveitando o habeas corpus já deferido, entrei em contato com o ornitólogo Fábio Schunck sobre a possibilidade de me apresentar o raríssimo visitante dos Andes que ele descobriu há duas semanas na represa de Guarapiranga, região sul da capital paulista, afinal São Paulo é muito mais perto que "los Andes".
O mergulhão-de-orelha-amarela (Podiceps occipitalis) é uma espécie que ocorre em diversos países andinos, mas muito raramente visita o Brasil, considerado por isso uma espécie vagante, ou seja, que ocorre irregularmente em nosso país.
Conforme dados que o Fábio me passou, o primeiro registro dessa espécie aqui no Brasil foi em 2002, em Santa Catarina. Em Guarapiranga foi visto pela primeira vez em 2006 (primeiro registro para o estado de São Paulo), pelo próprio Fábio, e só esse ano foi visto novamente. No Wikiaves só temos 4 cidades com registro dessa espécie, duas em SP, uma no PR e outra no RS.
Vale ressaltar que o Fabio faz um levantamento das aves dessa represa há 18 anos e conhece cada palmo dela.
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Dois outros lifers me motivaram ainda mais a fazer essa viagem que foi praticamente um bate-e-volta. Saímos de carro no sábado à tarde e retornamos no domingo, eu e Clarinha, que aproveitou para turistar na cidade que não para nunca.
Já na chegada, próximo ao pier de onde saímos, essas tranquilas irerês nos deram as boas-vindas |
Outro belo anatídeo que estava se alimentando tranquilamente no local, marreca-cricri |
Se antes de embarcar já rolou esses dois belos registros... dá pra imaginar que as expectativas eram grandes!
A maior delas: será que o mergulhão ainda estava lá?! O Fábio o observou dois dias antes, mas sabendo que a saída das aves é sempre "à francesa"...
Incrível que apesar da represa ser gigante, o mergulhão-de-orelha-amarela é sempre encontrado numa área específica, o que facilita sobremaneira nosso trabalho. Assim fomos direto ao local, e, para nossa grande alegria, ele estava lá!
O bicho é arisco, com seus mergulhos não nos deixava aproximar muito, mas com um pouco de paciência e grande técnica do nosso guia e barqueiro, conseguimos revelar um pouco da beleza exótica desse festejado visitante.
Mergulhão-de-orelha-amarela, que conforme Clarinha, tem olhos que parecem enfeitiçar |
Esse olho é real! |
Após o encontro principal, seguimos explorando a rica biodiversidade local. Só de marrecas foram contabilizadas dez espécies! Entre elas dois lifers, o marrecão e a marreca-colhereira. Só a andorinha-chilena que não rolou, precisaríamos de muito mais tempo para tentar identificá-la em meio a centenas que sobrevoavam a represa.
Logo após o encontro com o ilustre viajor, o Fábio achou o marrecão.
Por ser muito caçado é bicho arisco.
Da esquerda pra direita, a fêmea, o jovem macho e o macho adulto |
Em meio a caneleiras, frangos d'água e pernilongos, os olhos treinados do Fábio detectaram a marreca-colhereira |
Além da atual estrela de Guarapiranga e desses dois lifers, a grande quantidade de aves garantiu alguns registros legais.
A grande quantidade de caramujos sustenta uma grande população de gaviões-caramujeiros |
D. R. pesada:
Êh lá em casa... |
Guarapiranga também guarda a maior maternidade de biguás da capital |
Encontramos três espécies de íbis, coró-coró, caraúna e esse da foto, o tapicuru |
Além do mergulhão-de-orelha-amarela, encontramos o mergulhão-caçador e o sensacional mergulhão-grande.
Mergulhão-grande |
Onde está Wally? |
A curicaca seria um íbis? |
Também encontramos as raras carquejas de bico amarelo e de bico manchado, mas para não me estender muito vou ficando por aqui, apesar da grande quantidade de fotos que fiz nessa saída.
A carqueja-de-bico-amarelo também é arisca |
A represa de Guarapiranga me surpreendeu! E ela vive surpreendendo, disse Fábio, "o cara" da Guarapiranga, a quem agradeço imensamente. Também agradeço o Marco Silva, da SAVE, que organiza as excursões de observadores. Apesar de ter resolvido ir meio que em cima da hora, ambos foram muito solícitos e deram um jeito de me encaixar nessa saída (e olha que encaixar 1,90 m e 115 kg num barquinho não é fácil heim?). Valeu demais meus amigos!
Adorei a postagem e as fotos. Esse lugar é demais.
ResponderExcluirObrigado Silvia! Mais um tesouro para essa terra abençoada.
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