Formações florestais associadas a áreas pedregosas abrigam uma espécie muito rara, que só ocorre na Chapada, o tapaculo-da-chapada-diamantina, localmente conhecido como "gruneiro".
"Grunas" são espécies de cavernas criadas para extração do diamante. Os garimpeiros, pioneiros na Chapada, encontrando nas grunas aquele lifer, assim o batizaram.
Interessante paralelo podemos traçar com os Augastes.
Assim como temos o gravatinha-vermelho (A. lumachella), endêmico dos campos rupestres do Espinhaço norte, e o gravatinha-verde (A. scutatus), endêmico dos do sul, temos o tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus diamantinensis) e o tapaculo-serrano (Scytalopus petrophilus), que ocorre no Espinhaço sul e um pouco mais "pra baixo", chegando a alguns trechos da Mantiqueira.
Ambos ocupam praticamente o mesmo habitat ("petrophilus" significa amigo das pedras), sendo que morfologicamente as semelhanças são muito maiores que os beija-flores. Vale ressaltar que diamantinensis só foi "descoberto" em 2007, creio que antes disso deveria ser confundido com seu primo do sul. Mais um caso para a fascinante Biogeografia.
Paciência, virtude imprescindível também para fotógrafos de aves/Foto: Clara Botto |
Tínhamos uma manhã para tentar fotografar aquele que pra mim era o maior desafio dessa viagem, um dos mais raros Scytalopus conhecidos. Quem sabe, sabe, conhece bem, como é difícil registrar um Scytalopus.
No primeiro ponto encontramos um belo casal de sanhaço-de-fogo e uns aracuãs-de-barriga-branca que não deram "mole", mas nem um pio do gruneiro.
O segundo e último ponto (os outros pontos conhecidos demandavam muitas horas de caminhada) proporcionou-nos belos cenários, mas nada do gruneiro.
Cheguei a manifestar a desistência do bicho, afinal estávamos no período de descanso reprodutivo, enfraquecendo nossas chances de atrair e fotografar o arredio e irriquieto gruneiro. Mas foi aí que o Tavinho mostrou que não só brilha nos palcos.
Ele estava tão convicto que no dia seguinte encontraríamos o gruneiro que sua fé me comoveu e convenceu. Então, no dia seguinte, lá fomos nós, em bom "mineirês", "traveiz".
Sentei-me no chão, posicionando-me da melhor maneira possível. Depois de algum tempo, o som da esperança ecoou no meio do mato, uma sequencia breve e única me fez render graças aos céus e agradecimentos ao Tavinho.
Mas o tempo, em apreensivo silêncio, passava. Nem um pio, nem uma movimentação. Será que o bicho deu um alarme e sumiu? Sem aviso notei o mato se mexendo bem do meu lado, a menos de um metro! Meus olhos esbugalhados procuraram nosso guia que acenou positivamente! Rolou aquele o. o. na hora!
O fantasminha então pulou para um galho no "limpo", mas ainda tão perto que a lente não conseguia focar. Logo na sequencia foi para o local onde consegui salvar uma única foto, o suficiente para ganharmos o dia!
Gruneiro, espécie em perigo de extinção, no único click que salvou |
Na sequência outra "pedreira".
No cerradão a "caçada" continuaria desafiadora com o torom-do-nordeste (Hylopezus ochroleucus).
No cerradão a brenha é obstáculo a ser vencido/Foto: Clara Botto |
Pia de lá, embrenha daqui e mais uma vez não conseguimos revelar toda a excêntrica beleza do tímido torom-do-nordeste.
A brenha era tão braba que não conseguimos fugir dela |
O cerradão que o grande Thalison Ribeiro nos levou era top demais, encontramos todas as especialidades nordestinas que procurávamos.
Chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga cearae) |
Bico-virado-da-caatinga (Megaxenops parnaguae) |
Formigueiro-do-nordeste (Formicivora lhering) |
Pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus) |
Mas ainda não é tudo pessoal! A Chapada Diamantina ainda tem muitas riquezas a revelar!
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