domingo, 18 de agosto de 2019

A águia-fantasma e o espírito da coisa, 2ª parte

Apresentados a águia e seu refúgio, e recebendo muitos pedidos de esclarecimentos sobre as variadas nuances que envolvem o fenômeno, tentarei ajudar com algumas informações que julgo úteis.

Uiraçu, a águia-fantasma

A pousada Refúgio das Águias foi criada para realizar o sonho de encontrar esse mito de nossas florestas. E, claro, o plural se refere também ao ninho conhecido de harpia, que se encontra inativo, mas que há boas chances de se reativar quando a temporada do uiraçu acabar. Caso isso ocorra, será praticamente sempre alta temporada na "Refúgio" (importante frisar que o filhote fica mais de um ano nas imediações do ninho, usando-o como poleiro de pernoite durante todo esse tempo).

Outro dado relevante é que há um período de fortes chuvas, a partir de dezembro, que torna impraticável o ecoturismo no local. Nada mal, pois coincide também com as férias escolares, o que dá um alívio para o Fernando e sua família, que já trabalhavam intensamente na fazenda Casa Grande antes do advento da pousada.

Filhotão bocejando depois de uma farta refeição

O filhote, como vocês podem ver, já está grandinho, mas totalmente dependente da zelosa mamãe águia-fantasma que ainda fica sempre por perto. Porém, a tendência é dela se tornar cada vez menos presente, para incentivá-lo a "correr atrás", ou melhor, "voar atrás" de sua independência. Creio que isso só ocorrerá a partir de meados de setembro. Portanto, aos que forem a partir dessa data, sugiro que fiquem pelo menos dois dias, pois ficando somente um, corre-se o risco de não se ver a fêmea.

A mamãe é tão fantasma que às vezes assusta até seu filhote


A estrada de acesso à pousada é boa, mesmo os últimos 40 km de terra (dá pra ir de carro baixo). DICA IMPORTANTE: o GPS erra nos últimos 750 metros: em vez de seguir em frente, entre pela porteira à esquerda. Em 750 metros avistarás a pousada que é totalmente cercada por um muro baixo.

A pousada segue o padrão para birders, simples mas aconchegante, café da manhã bem cedo e a comida caseira nos faz sentir em casa. Destaque para o freezer com boas opções de "geladas" para aquele relax comemorativo.

Como a pousada fica próximo à mata, podemos ver bichos legais sem sair dela, como foi o caso de um flagrante muito legal de 3 gaviões-tesoura investindo contra um gavião-pato.

Combate aéreo


Há uma trilha sensacional que pode ser acessada a pé, fiz vários lifers nela, como cantador-ocráceo, saíra-mascarada, uirapuruzinho, choca-de-olho-vermelho, choca-canela, chororó-pocuá, arapaçu-de-rondônia, além de registrar outros bichos legais:

Saíra-de-cabeça-azul (Tangara cyanicollis)

Saíra-mascarada (Tangara nigrocincta)

Saíra-de-bando (Tangara mexicana)


Uirapuruzinho
Cantador-ocráceo
De uma "janela" consegui o registro da choca-de-olho-vermelho

Esse tamanduá-mirim é frequentemente encontrado na trilha, foi lifer também

Outro fato digno de nota foi a quantidade de mamíferos encontrados (não à toa há pelo menos dois casais de grandes águias na área), realmente a vida pulula naquelas bandas.

Tatu, saguis, macacos, tamanduá-mirim, iraras e uma raríssima nova espécie de macaco, um "tipo" de parauacu, que com um bocado de sorte pode ser avistado da torre do uiraçu:

Estavam urrando para sua temível predadora, numa árvore atrás do ninho, parece ser um casal


Acho que é um tatu-peba


Aliás, da torre podemos encontrar muitos outros bichos, como as já citadas saíras amazônicas, arapaçus, anambés, araçaris etc. Segue um aperitivo de lá:


Anambé-pombo

Arapaçu-de-rondônia


Sem dúvida o local por si só é top, devido à abundancia de vida selvagem. Mas além disso, e dos ilustres ninhos, há dois outros fatores que tornam esse lugar um verdadeiro paraíso na Amazônia.

Nunca imaginaria a floresta amazônica sem seus mosquitos vorazes e seu terrível mormaço. Para mim, tais fatores sempre foram o alto preço a se pagar para desbravar o local mais selvagem do planeta, sensação que só estando lá pra saber.


Vista do flutuante

Deitar sobre um flutuante, numa paisagem dessas, sob a orquestra de araras, maracanãs entre outros vozerios, e poder cochilar sem ser atacado por nuvens de sedentas muriçocas e sem se desmanchar de suor numa sauna ao ar livre era algo inimaginável pra mim.

As araras são comuns na várzea, essas foram clicadas no fim do dia


É isso pessoal, o Refúgio das Águias é pra lá de especial, sem dúvida um lugar pra se ir e voltar.

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