Essa cena magnífica foi a primeira que vi quando subi a torre, o filhote sozinho numa posição inusitada |
Depois a grande fêmea deu o ar da graça, trazendo alimento. O Fernando disse que foi a primeira vez que ela saiu pra caçar |
Cheguei à pousada por volta do meio dia, e o Fernando me perguntou se queria conhecer logo o ninho, apesar de não ser uma boa hora para fotos devido à incidência solar desfavorável. A resposta não poderia ser outra, "claro"!
Nove quilômetros de estradas margeadas por florestas separam a pousada do ninho. A fazenda é enorme e esperamos que se mantenha assim, bem preservada.
Muitos avistamentos de harpias já foram realizados naquelas estradas, inclusive um famoso vídeo feito por drone de uma harpia com um tatu sobre uma torre de transmissão de energia. Vi também duas iraras nessa estrada. As muitas pegadas e excrementos denunciam a grande quantidade de mamíferos, principalmente antas.
Vendo as imagens de satélite, imagino que aquele enorme fragmento - que combinado com outros de fazendas vizinhas - deva ser como uma arca de noé para a região, abrigando as espécies que perderam seu habitat para as pastagens. Somados, um continuum de mais de 30 mil hectares de florestas preserva a biodiversidade de uma das regiões mais devastadas da Amazônia.
Irara atravessando a estrada que dá acesso ao ninho |
Outro fato que me surpreendeu bastante foi algo que me remeteu às aulas do colégio, sobre a pobreza do solo amazônico. É uma areia muito fina, que logo sentimos ao pegar a estrada que começa em Barra do Bugres e que dá acesso à fazenda. Lembrei-me que aprendi que o que sustenta aquela rica floresta é a matéria orgânica produzida por ela mesma, num círculo virtuoso e frágil.
Sou leigo, mas temo uma desertificação se a Amazônia não for preservada |
Muito interessante também vivenciar os aspectos geográficos da região.
Saímos de Cuiabá e nas áreas ainda preservadas nos deparamos com um cerradão típico. Quando contornamos a serra das Araras (aquela famosa devido a um avistamento da rolinha-do-planalto), as primeiras formações florestais que são avistadas já são mais robustas (há muita devastação nessa região). Numa clara transição, tais florestas não chegam a ter a imponência daquelas encontradas mais ao norte, como em Alta Floresta (vejam como o nome é sugestivo), mas também não se confundem com o cerradão. Ao observar as imagens de satélite, vemos claramente que a mencionada serra "divide" a Amazônia do Cerrado, em diferentes tons de verde.
Saímos de Cuiabá e nas áreas ainda preservadas nos deparamos com um cerradão típico. Quando contornamos a serra das Araras (aquela famosa devido a um avistamento da rolinha-do-planalto), as primeiras formações florestais que são avistadas já são mais robustas (há muita devastação nessa região). Numa clara transição, tais florestas não chegam a ter a imponência daquelas encontradas mais ao norte, como em Alta Floresta (vejam como o nome é sugestivo), mas também não se confundem com o cerradão. Ao observar as imagens de satélite, vemos claramente que a mencionada serra "divide" a Amazônia do Cerrado, em diferentes tons de verde.
Voltando ao fenômeno, claro que preferiria que meu primeiro encontro com o uiraçu fosse sob a comoção que só um encontro ao acaso proporciona. Mas sabendo da dificuldade que é encontrar uma águia-fantasma, não poderia deixar essa oportunidade passar em branco.
Pesquisando um pouco pra trazer aos caros leitores um pouco de informação sobre o uiraçu, espantei-me com a escassez do bicho. As estimativas giram em torno de mil a dez mil indivíduos adultos em toda sua área de ocorrência, que vai do sul do México ao norte da Argentina.
Outra curiosidade é que estudos genéticos recentes indicam que o uiraçu pertence ao gênero Harpia, o que concordo plenamente! Nem precisamos ir tão fundo. Numa observação mesmo de longe podemos atestar empiricamente o sangue azul do bicho.
Fora da Amazônia, achar um uiraçu é como ganhar na mega sena, mesmo lá as possibilidades são remotas. A segunda foto que vi do ninho de Barra do Bugres/MT foi do renomado documentarista Lawrence Whaba. Sua vibração ao descrever a experiência é contagiante. Foi a primeira vez que encontrou esse bicho em 27 anos de profissão!
Tratamento da foto: Daniel Mello |
Belissimo trabalho.
ResponderExcluirMuito obrigado!!!
ExcluirCaramba que sensacional. Posso imaginar a emoção!
ResponderExcluirLindo relato meu amigo. Grande abraço!
Obrigado, Unknown!rs
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