domingo, 9 de agosto de 2020

Passarinhar, a melhor saída II

 Já há algum tempo, através da internet, o Fábio Barata convidou-me para conhecer as aves de sua região. Como já estávamos fechados com a Trilha dos Tucanos (que só abre quarta), aproveitamos a janela de três dias para conhecermos Peruíbe, onde minha família poderia curtir uma praia sossegada enquanto eu e o Fábio "corríamos atrás" do ameaçadíssimo papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis). Demos sorte, pois apesar do inverno, rolou um praião, com temperaturas em torno dos 30 graus!  

O voo do passarinho que mais amo


A grande estrela do litoral sul de SP está restrito às suas restingas e a uma mínima área do Paraná, em regiões que sofrem grande pressão devido à ocupação humana.

O Fábio contou-me que os próprios pesquisadores do papagaio afirmam que sua região é a melhor para observá-lo. Realmente foi batata, né Barata? 

Primeiro, ao alvorecer, pudemos contemplar o espetáculo de uma grande revoada próxima a um dormitório. O Fábio estimou uns 70 indivíduos! 

Depois fomos para outro ponto certeiro, pena que pousaram nos galhos mais altos da capororoca (Myrsine l.) e partiram antes que o sol os atingisse. Mesmo assim fiquei satisfeito em flagrar um comportamento que muito nos aproxima:

Love's in the air


Com esse super lifer, ficou faltando somente uma espécie para atingir a simbólica meta de 1100 aves fotografadas. E o Fábio fez de tudo para alcançá-la, parecia que queria mais do que eu.rs Mas a saracura-lisa e o saí-de-pernas-pretas (praticamente as últimas espécies que faltavam pra mim na região) não colaboraram. A saracura fez jus à fama e não deu as caras. O saí, devido ao calor, não estava na baixada. De qualquer forma agradeço ao grande Fábio Barata por sua boa vontade e esforço.

Depois de uma deliciosa comida caseira fomos ao Mochileiros Hostel e Pousada, onde o Fábio recebe birders de todo mundo, atraídos principalmente pela estrela local. 

Lá, um comedouro muito bem frequentado rendeu ótimas fotos, destaque para a belíssima gralha-azul, que de acordo com o Fábio, provavelmente se trata de espécie diferente da que ocorre no sul do país.

Gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), um bando pinta sempre na hora do almoço
Pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros)
Guaxe (Cacicus haemorrhous)

Obrigado por tudo Fábio, até a próxima!


No dia que fomos para a Trilha dos Tucanos (TT) o tempo mudou. Uma frente fria chegou com tudo, causando queda de temperatura e uma fina chuva contínua. Mas nada que atrapalhasse. Talvez tenha até ajudado.

Logo que chegamos fomos muito bem recebidos pela Patrícia, proprietária da TT. Após breve conversa amistosa, ofereceu a chave que, na TT, une dois mundos separados há incontáveis milênios: uma banana!

Juntei-me ao João Miguel e, a partir dali, duas crianças, com as chaves dos portais, adentraram o recinto onde a magia acontecia.

Com as chaves em riste, espécies selvagens, que vivem sob as leis da Natureza, ou seja, mantendo seus instintos de sobrevivência, quebram a barreira entre nossos mundos e levemente pousam sobre nossos corpos, que ao sentir tamanha energia, aumentam sua vibração.

E não foi somente uma sensação pessoal, de um observador de aves experiente que nunca passou por aquilo. O João, mesmo com sua personalidade serena, exclamou, durante aquela experiência sobrenatural, que estava tremendo. A partir dali convenci-me de que fiz a coisa certa. Como diz um velho amigo, valeu a pena, as asas, o voo!


Esse sorriso, essa sensação, não tem preço
   

Enquanto tentava melhorar meu registro da jacutinga e do macuco, o João listou um monte de bicho legal que comeu em sua mão! Teve até irara e caxinguelê! Entre as aves, além dos periquitos-ricos (que eram a grande maioria), saíra-sete-cores, catirumbava, araçari-banana, tiriba-de-testa-vermelha, pimentão e tucano-de-bico-verde fizeram a alegria daquela criança, que depois dessa viagem, certamente entrará para o nosso time. 

Ajeitando as coisas pra ir embora, elas vieram se despedir
Sentiram o cheiro das bananas que levávamos, explicou Patrícia

Despeço-me com alguns dos registros dessa rápida, porém intensa visita à incomparável Trilha dos Tucanos. Mas antes, deixo aqui registrado minha eterna gratidão à Patrícia e ao Marcão, pelo belíssimo trabalho realizado e pela recepção que nos fez sentir como parte da família.

Araçari-poca (Selenidera maculirostris) alimentando-se do palmito-juçara (Euterpe edulis)

Araçari-banana (Pteroglossus bailloni)

Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus)


Pica-pau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens)


Tiê-de-bando (Habia rubica)
Juriti-gemedeira (Leptotila rufaxilla)

6 comentários:

  1. Adoramos o relato João Sérgio, certamente esse contato com o João foi único!! Guardará para sempre essa lembrança como iniciação dessa grande e maravilhosa comunidade. "Observadores de aves" Grande abraço.

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  2. Que magia divina da natureza ! Somos fã do Fábio Barata do Guarau e espero logo conhecer e ter a oportunidade de viver isso na TT! Obrigada por compartir sua experiência! Torço muito Por mais educação ambiental para apreciar este mundo lindo . Que bom que existem pessoas dedicadas ao meio ambiente! Veve.

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    1. Maravilha, Veve!
      Se cada um que admira a Natureza fizer a sua parte, ajudamos muito!
      Abração!

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  3. Bem bacana seu relato. Realmente, travamos uma luta difícil em nosso município na defesa dessa restinga onde habita o Cara-Roxa, além de outras áreas bastante ameaçadas.
    Quanto mais divulgação houver sobre a importância do nosso bioma na proteção de tantas espécies fantásticas, melhor para a nossa luta na captação de apoio.
    O Mochileiros é um paraíso à parte, e o Barata uma referência na sua relação com as aves.

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    1. Vcs q estão na linha de frente são nossos heróis, parabéns Mari!

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