Ave!!!
Quem é birder e se interessa pelas aves brasileiras, se já não conhece, algum dia certamente vai ouvir falar do Parque Estadual do Espinilho.
"Espinilho" é o nome popular de um conjunto botânico típico desse ecossistema, caracterizado pela grande quantidade de estruturas espinhosas e pelo pequeno porte.
Essa vegetação tão peculiar, que quebra a homogeneidade paisagística dos Pampas, possui uma avifauna típica, com forte presença da família Furnaridae, cujo mais famoso representante é o joão-de-barro.
A má notícia é que esse ecossistema foi praticamente todo dizimado em território nacional, resistindo somente nessa unidade de conservação, o que torna esse Parque importantíssimo para o Brasil.
A boa notícia é que podemos contar com servidores e colaboradores que dedicam suas vidas a protegê-lo (pois a depender do poder público competente... a incompetência e o desleixo são notórios).
Foto: Bruno Dinucci |
Foto: Bruno Dinucci |
Faço agora um importante parênteses pois tenho que agradecer ao amigo e grande naturalista Ricardo Oliveira por todo apoio.
Além de sua extrema disposição em nos ajudar em todo planejamento dessa expedição que também se estendeu à Argentina (foram meses trocando mensagens), o Ricardo é um dos maiores birders do Brasil!
Suas incursões aos infindáveis campos sulinos já renderam várias novas espécies catalogadas para o Brasil. Com certeza a ornitologia brasileira deve muito a esse grande observador!
Foi inclusive o Ricardo que fez a ponte com a equipe ímpar do Parque Estadual do Espinilho.
Olha, em treze anos rodando várias unidades de conservação pelo país afora, nunca vi uma equipe tão dedicada e comprometida!
E não digo somente da dedicação ao Parque (heroica por sinal), mas a nós próprios, observadores de aves.
Nosso primeiro dia de incursão ao Parque foi uma aula magna sobre o "Espinilho".
O grande Maurício Scherer, seu gestor, ia contando a história natural do local, com breves mas atenciosas paradas para registrar sons e anotar encontros com mínimos seres vivos, demonstrando conhecimento e veneração pela natureza daquele lugar.
Mais tarde me contou que quando passou no concurso escolheu o Parque do Espinilho pela admiração e desejo em trabalhar em prol de sua preservação.
O xará do nosso parceiro nessa aventura, o Bruno, assim como o Maurício, dedica sua vida àquela joia encrustada nos rincões do nosso país e juntamente com a monitora Bianca, formam uma equipe top das galáxias.
Entre trabalhos administrativos, burocráticos e tudo mais que precisar, eles ainda acompanham os visitantes (na maioria birders) por todo parque (são kms de caminhadas sempre sob extremos, lá é oito ou oitenta, ou muito quente ou muito frio).
O cuidado deles é tamanho que não é permitida a entrada de visitantes desacompanhados.
Também pudera, muito provavelmente aquela área de menos de dois mil hectares seja o último refúgio de uma espécie icônica no nosso país e que falaremos na segunda parte desse relato.
Vou terminando essa introdução com meus sinceros agradecimentos a esses abnegados servidores, não só por nos acompanharem vários quilômetros sob escaldantes 40 graus para nos apresentarem às aves do "Espinilho", mas principalmente pela dedicação à causa, lutando contra vários e graves problemas, que vão de crimes ambientais à total falta de investimentos.
Ninho de ema aos pés do inhanduvai (Prosopis affinis) |
Apesar do grande porte e da vegetação aberta, é mais fácil ouvi-las do que vê-las no "Espinilho" |
Introduzindo as aves do Parque e para não nos estendermos muito mais, vou só falar de uma espécie que por sua importância virou até nome de uma das plantas típicas do "Espinilho", a ema.
Inhandu é um dos nomes populares da maior ave brasileira, e a semente do inhanduvai só germina se passar pelo trato digestivo do inhandu. Já viu de onde vem o pitoresco nome popular do arvoredo, né?
Essa relação é uma entre tantas outras que demonstra que tudo está interligado na Natureza e que devemos tomar medidas conservacionistas para que o impacto de nossas ações não causem ainda mais danos.
Esse que vos fala, Bruno, Bianca, Maurício e Bruno Dinucci sob o inhanduvai Foto: Equipe P. E. do Espinilho |
E foi assim, sob um inhanduvai, que fizemos a foto do grupo e nos despedimos da equipe mais top do Brasil.
Nesse momento, já antecipando as saudades, me veio uma analogia da relação da ema com o inhanduvai, e de nós, observadores, com o Parque.
Observadores/fotógrafos de todo país ajudam a disseminar a grande riqueza dessa unidade de conservação, auxiliando à sua perpetuação, na forma de divulgação e fomento ao turismo sustentável que mais cresce no Brasil.
Então, às aves!
Sim, nossos agradecimentos e aplausos à equipe do Parque que nos recebeu com tanta atenção e simpatia 👏👏👏
ResponderExcluirPS: O engraçado deste tipo de ambiente é que é tudo igual, a planície com os inhanduvais salpicados aqui e acolá, de modo que você perde completamente a direção. O segredo é se guiar pelo sol, e seguir o guia hehe
ResponderExcluirNo texto, uma justa homenagem ao Ricardo Oliveira, amigo que conheci quando da minha viagem a Uruguaiana e ao Espinilho, e que demonstrou desde o início grande generosidade, simpatia, e paixão por aquelas terras.
ResponderExcluirFico feliz que aquele restinho de vegetação típica que resta no RS esteja em boas mãos e sendo bem cuidada.
Abraço a toda a equipe.
Muito obrigado, grande Robson!
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