sábado, 4 de fevereiro de 2023

Parque Estadual do Espinilho, parte final

 Ave!

No segundo dia fomos com o guarda-parque Bruno, grande conhecedor das aves e gente boa demais, apresentou-me a melhor cachaça de todas, que sua mãe faz curtida numa fruta típica da região. Apesar de mineiro, não sou muito fã da "branquinha", mas essa tava boa demais da conta, sô!

Nosso objetivo principal era o raríssimo cardeal-amarelo, mas também outros lifers e endemismos do "Espinilho" que não conseguimos fotografar no primeiro dia. Afinal estávamos num mundo desconhecido, cheio de novidades.

A primeira espécie interessante que pintou foi um velho conhecido do nosso Cerrado, mas lifer pro Bruno, o Dinucci.

Pica-pau-chorão (Veniliornis mixtus mixtus)

O primeiro lifer do dia ficou por conta do tijerila (Xenopsaris albinucha), um interessantíssimo tiranídeo migratório que fui ouvir falar na ocasião de uma expedição ao sertão cearense que fiz há alguns anos. Na época ele já havia migrado pro Sul.

Alguém mais achou parecida com uma famosa cantora?

Fêmea da tijerila


Depois de longa caminhada e de novas tentativas frustradas de fotografar o rabudinho (única sp típica que estava na região nessa época e que não conseguimos foto), adentramos novamente o território do cardeal-amarelo. 

O cansaço devido ao segundo dia de andanças, carregando pesado equipamento, sob um sol escaldante que batia os quarenta graus já se fazia presente. Mas as energias instantaneamente se renovaram quando o Bruno, nosso guia, detectou a estrela do "Espinilho".

Todo cuidado é pouco pra conseguirmos nos aproximar. O bicho foi caçado à extinção no Brasil, ele não nos vê com bons olhos. 




Foram várias tentativas de aproximação, mas só conseguimos fotografá-los a uma boa distância.

Aqueles sobreviventes aprenderam a nos evitar, por isso talvez conseguiram "ressuscitar" em território nacional.

O nível de cuidado da equipe do parque é tão alto que é terminantemente proibido o uso do playback da joia rara do Espinilho. 

E olha que o "trem" já foi mais rigoroso! 

De 2014 a 2018 vigeu uma proibição de publicação no Wikiaves de fotos feitas no período reprodutivo, justamente para evitar qualquer tipo de interferência na perpetuação da espécie.

Gubernatrix cristata, o rei do Espinilho




No retorno à sede do parque encontramos esse suiriri-cinzento bem diferente daquele que conhecemos do Cerrado. Dizem as boas línguas que essa subespécie será uma futura nova espécie.


Suiriri suiriri suiriri


Mais adiante "trombamos" com o grande Raphael Kurz, famoso guia gaúcho, que gentilmente nos convidou para fotografar uma das espécies mais tops de lá, o tio-tio-pequeno (Phacellodomus sibilatrix).

Essa sp só é encontrada no Brasil no Parque Estadual do Espinilho

O Raphael é fera mesmo, não só "desembrenhou" o bicho, como o fez pousar no galho que ele queria.

Muito obrigado meu caro!

O próximo lifer e último do dia foi o capacetinho (Microspingus melanoleucus), "primo" sulino do nosso capacetinho-do-oco-do-pau (Microspingus cinereus).




No terceiro dia nossa guia foi a monitora Bianca, adentramos o parque com dois objetivos, fotografar o rabudinho e melhorar o registro do cardeal-amarelo. 

Fomos procurando, sem sucesso, o rabudinho no percurso até o território do cardeal (que é uma sp muito territorialista) e, lá chegando, a Bianca logo ouviu seu canto melodioso, porém, mais uma vez, não conseguimos a aproximação desejada.

Sempre os encontramos acasalados



Despedimo-nos certos do retorno, pelas amizades e pelos migrantes de inverno. E mais uma vez deixo aqui meus sinceros agradecimentos ao Maurício, ao Bruno e à Bianca, pelo esforço em nos apresentar as aves do singular Parque Estadual do Espinilho e principalmente por dedicar suas vidas à sua preservação.

Partimos então para Uruguaiana, onde nosso querido amigo e grande naturalista, Ricardo Oliveira, nos esperava para nos apresentar alguns lifers.

Como muitos observadores mais experientes já sabem, o Ricardo, juntamente com sua esposa, Gina Bellagamba, contribuíram significativamente para a ornitologia do nosso país, incluindo diversas espécies para a lista oficial de aves brasileiras, graças ao trabalho de levantamento feito na região fronteiriça de sua terra, cujos antepassados foram pioneiros na ocupação. Percebe-se que o espírito desbravador permanece apesar das muitas gerações passadas.

O Ricardo nos levou até uma região típica dos Pampas onde pudemos registrar o maçarico-do-campo, interessantíssima espécie migratória do hemisfério norte que há muito queria fotografar e o caminheiro-de-unha-curta, ave endêmica do bioma gaúcho. 

Bartramia longicauda


Anthus furcatus levando alimento para o ninho 


"De quebra", na volta, ainda pudemos melhorar, e muito, o registro do belo caboclinho-de-papo-escuro.

Sporophila ruficollis



Pampas em Uruguaiana, esturricado com a seca braba que se abateu por todo RS

Despedimo-nos, eternamente gratos, do amigo Ricardo Oliveira, que nos ajudou, e muito, nessa viagem aos Pampas.

Depois de um belo almoço com o famoso churrasco gaúcho, partimos para a segunda etapa de nossa expedição.




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