Tanto geográfica, quanto biologicamente falando, e especialmente no que toca à avifauna.
O incessante movimento das dunas e das águas, ao sabor dos ventos e das marés, modifica incessantemente a paisagem, ocasionando armadilhas tanto para a fauna, quanto para o bicho-homem (falaremos sobre isso oportunamente).
As dunas são uma das várias paisagens magníficas do PARNA |
Para quem procura registrar as espécies que ocorrem naquelas planícies alagadas (que parecem infinitas aos nossos olhos), e, principalmente, em todo seu esplendor, precisa fazer pelo menos duas viagens em épocas distintas.
As aves costumam se adornar para a reprodução (qualquer semelhança com a espécie humana não é mera coincidência). Tornando-se mais belas, atrativas, têm mais chances de alcançar o clímax reclamado pelo seu instinto sexual.
Elas geralmente costumam se reproduzir nos meses mais quentes (primavera/verão), quando há mais oferta de alimento e, por conseguinte, melhores condições de prover suas crias.
A questão é que o complexo marítimo/lacustre do PARNA abriga tanto espécies que se reproduzem no hemisfério Norte, quanto as que se reproduzem no Sul.
Esta época em particular é muito boa porque estamos num período de transição. Achamos tanto espécies que estão chegando, fugindo de áreas mais frias ao sul do nosso continente, quanto as que estão partindo, para a reprodução durante a primavera/verão da América do Norte.
Interessante foi notar a plumagem de reprodução já formada em alguns espécimes dos vários bandos que encontramos, indicando assim o clamor da natureza a impelir aqueles bravos viajores rumo ao extremo norte do continente americano, numa hercúlea viagem que somente os mais fortes sobreviverão.
Por outro lado, espécies residentes e as que estão chegando das áreas mais austrais do continente encontram-se em descanso reprodutivo (período que sucede a reprodução). Neste período as aves vão perdendo o interesse pelo playback, assim como suas plumagens "de festa".
Um caso que bem ilustra o que acabo de dizer é o da espécie mais extraordinária (na minha opinião) que ocorre no PARNA, o papa-piri.
Nosso guia, o excelente Rafael Fortes, nos alertou que a grande maioria dos espécimes ultimamente encontrados já não possuíam o mesmo viço dos áureos tempos reprodutivos ou eram os imaturos da última temporada.
Certo é que envidamos todos os esforços para conseguir um registro que fizesse altura à beleza dessa espécie, mas a conjuntura desfavorável prevaleceu e esta foi a melhor foto que consegui:
Mais um pequeno grande motivo para voltar no vigor primaveril |
Às margens da gigantesca Laguna dos Patos, um grande juncal abriga vários territórios de Tachuris rubrigastra |
Dos recém-chegados tivemos sorte com a calhandra-de-três-rabos, que já havia se estabelecido no mesmo ponto de sempre, ao contrário do colegial, que além de não ter território fixo, não responde ao playback. Sua foto foi uma clássica "de lifer", já a calhandra deu show!
Mimus triurus |
Em voo, faz jus ao nome |
São várias espécies que se reproduzem no sul do continente e chegam até o PARNA fugindo do rigoroso inverno austral, outra que registramos foi a ameaçada gaivota-de-rabo-preto:
Único exemplar encontrado de Larus atlanticus, graças à expertise do Rafael Fortes que conseguiu diferenciá-lo dos inúmeros gaivotões |
Outra gaivota que encontramos com sua plumagem de descanso (menos bela) foi a maria-velha:
Chroicocephalus maculipennis |
O mesmo PARNA que provê os famintos recém-chegados, fornece as necessárias reservas de gordura aos nossos pequenos grandes recordistas. Alguns maçaricos, que na última primavera também chegavam àquela terra de fartura, começavam a vestir suas vistosas plumagens de reprodução e a se preparar para a grande viagem.
Calma pessoal, tem alimento pra todos |
Vira-pedras quase "a ponto de bala" |
O vai-e-vem anual das aves e seus respectivos ciclos biológicos podem ser apreciados no Parque Nacional da Lagoa do Peixe |
Nenhum comentário:
Postar um comentário