quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Manaus, o retorno Parte I

Em outubro de 2015, eu, o "ícone da cultura mineira" e grande parceiro, Tavinho Moura e sua adorável esposa, a Sica, fomos passarinhar pela primeira vez em Manaus. Retornamos aos nossos lares com a certeza de que voltaríamos o mais breve possível e assim foi feito.

Nosso guia dessa vez foi o Luiz Fernando, muito profissional e competente, no primeiro contato já me questionou qual era o objetivo dessa viagem. "Degustar uma costela de tambaqui" foi minha resposta, e nas horas vagas "caçar uns lifers". Sem dúvida, sucesso total! A começar pelo restaurante que o Luiz nos levou. Com o sugestivo nome "Tambaqui de Banda", impossível não recomendar, um dos melhores sabores que já vivenciei  nos meus 40 anos de existência. E nas horas vagas, mais de 50 lifers foram conquistados! Com muito suor diga-se de passagem, mas somente devido ao calor e umidade, pois nosso roteiro foi muito tranquilo. Com muitos e agradáveis passeios de barco, somente a torre nos exigiu maiores esforços, ou seja, um roteiro recomendável a todas as idades e condicionamentos físicos.

No primeiro dia nossos destinos foram a badalada torre do MUSA e o também famoso ramal do pau rosa.

A primeira atração do dia foi um araçari-miudinho diferente, o Luiz nos explicou que ele possui uma coloração que o diferencia dos demais. Apesar da névoa que dominava a paisagem, com um pouco de tratamento, até que o registro não ficou dos piores.

Pteroglossus viridis

Ainda sob névoa, ouvimos um gavião que o Luiz identificou como sendo o gavião-de-cara-preta, um top lifer para mim. Estava longe, mas depois de um tempo vocalizando incessantemente, voou para uma árvore um pouco mais próxima, mas ainda distante.

Leucopternis melanops

Apesar de nenhum bando misto pintar na torre neste dia e do nevoeiro que tomou conta de boa parte da manhã, fiz um lifer numa foto que fez jus à sua beleza:

Todirostrum pictum

Outros bichos legais que "deram mole" foram o macuru-de-pescoço-branco:

Notharchus macrorhynchos

E o chincoã-de-bico-vermelho:

Piaya melanogaster

A pomba-botafogo, relativamente comum na torre, também não faltou, entoando o nome do seu time favorito:

Patagioenas subvinacea


Outra figurinha sempre presente, com sua excêntrica vocalização, é o belo xexéu:

Cacicus cela

Descemos a grande torre com aquele sentimento de que poderia ter sido melhor, mas nunca devemos esquecer que a passarinhada só termina quando acaba! E retornando pela trilha que leva à torre, para nossa alegria, nos deparamos com um evento muito desejado por todo passarinheiro: uma grande correição! Verdadeira festa na mata onde grandes personalidades, geralmente introvertidas, costumam desfilar com pouca timidez. Meias sobre as calças e lá fomos nós, como bons penetras.

O primeiro a ser detectado, com contagiante euforia, pelo grande Luiz Fernando foi o raro arapaçu-de-bico-vermelho, bicho muito difícil de ser encontrado em C.N.T.P..

Hylexetastes perrotii


Concomitantemente outro interessantíssimo arapaçu, um tanto menos tímido, pintou, o arapaçu-meio-barrado:

Dendrocolaptes picumnus


Mas essas aparições pareciam só preparar o coração para o que estava por vir, afinal, entrando nos "enta" não devemos dar grandes sobressaltos neste órgão tão vital. Sem mais palavras, ainda tive o incomensurável prazer de vê-lo chegar e pouco depois ir ao chão da floresta amazônica! A pouquíssimos metros!

Foto sem crop


Como sonhei com esse bicho, quanto esforço pra fotografá-lo, sem sequer conseguir colocar os olhos nele! Uma espécie-fantasma de nossas florestas, arredio e lindo de doer. O bicho ainda pousou no chão, a poucos metros, adrenalina pura e em dose cavalar!

Na hora não sabia o que fotografava, sabia que era um Micrastur amazônico, o que já era o bastante para o coração se deslocar até a garganta. A questão foi solucionada dias depois, era a esquiva subespécie amazônica do falcão-caburé (M. r. concentricus). Para vocês terem uma ideia, há somente 4 registros desse bicho para Manaus (Wikiaves).

Ainda consegui mais dois lifers, ambos assíduos frequentadores da festa das correições: mais um arapaçu amazônico pra coleção, o barrado e olha que ainda faltam várias espécies pra registrar (a biodiversidade amazônica é extraordinária, ainda mais quando o assunto é arapaçu), além de um registro sofrível de outro fantasminha, a mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha.



À tarde fomos ao ramal do pau rosa. Objetivo principal, o torom-carijó. Primo do nosso pinto-do-mato, sobrenome: tinhoso. Mas este que fomos atrás já conhece o Luiz Fernando de longa data, vocês precisam ver como ficou à vontade apesar de nossa presença muito próxima mesmo.

Mas chegar tão perto não foi tão fácil, o bicho estava longe da trilha e pouco se aproximou, forçando-nos a trabalharmos em equipe. Sempre ficava um na trilha, como ponto de referência, enquanto os demais se embrenhavam na floresta para registrar o fantasminha camarada.

Todos saímos muito satisfeitos em conhecer, na intimidade, o sensacional torom-carijó!

Hylopezus macularius

Outro lifer muito festejado que pintou foi o formigueiro-ferrugem.
Apesar de não sair de uma área muito escura da mata, rolou um registro que até não ficou dos piores, mas este merece uma foto melhor, fica pra próxima, que espero ser no ano que vem, pois Manaus e região não é lugar só de conhecer, é lugar de retornar, e muitas, muitas vezes.


Myrmoderus ferrugineus


E o dia ainda não tinha acabado! Na volta outro lifer dificílimo, um registro do garrinchão-coraia no único mole que deu.

Pheugopedius coraya

Claro que muitas outras espécies legais foram registradas também à tarde, mas para não me delongar demais, fiquemos somente com os lifers.

Um tanto cansados, devido ao calor úmido típico da Amazônia, fomos repousar sob a maior invenção humana de todos os tempos, o ar condicionado, para, no dia seguinte, conhecermos o infelizmente desativado hotel Ariaú, um lugar que não conseguimos acesso na primeira vez que lá estivemos devido à grande seca de 2015.

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