sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Até tu, tauató Parte Final

Ave amigos!

Dando continuidade à história do tauató (que até o momento já teve mais de 200 visualizações, nos quatro cantos do mundo), vamos falar sobre o pré e pós tauató.

A ideia era aproveitar ao máximo o tempo disponível. Então focamos em duas espécies muito especiais. Certamente estão entre as mais belas e ameaçadas do país.

Do aeroporto partimos direto para a belíssima Ilha Comprida (devido à correria não deu tempo nem de fotografar as paisagens estonteantes do lugar), lar de uma das mais belas aves brasileiras, o alucinante guará (Eudocimus ruber), um íbis escarlate tão extraordinário que está presente em vários relatos dos primeiros europeus que aportaram por aqui.

Hans Staden, mercenário alemão que se aventurou nessas terras no século XVI, foi um dos primeiros a escrever sobre nossa natureza e deixou suas impressões sobre o guará em sua insigne obra:

 “Ha também muitos passaros singulares ali. Uma especie chamada Uwara Pirange tem seus pastos perto do mar e se aninha nas rochas, junto à terra. Tem o tamanho de uma galinha, bico comprido e pernas como as da garça, mas não tão compridas. As primeiras pennas que sáem nos filhotes são pardacentas e com ellas vôam um anno; mudam então essas pennas e todo o passaro fica tão vermelho quanto possivel, e assim persiste. As suas pennas são muitos estimadas pelos selvagens”

Acredita-se que sua área de ocorrência fosse bem maior que a atual. Além da pressão da caça, a destruição do seu habitat provavelmente ocasionou o isolamento geográfico das atuais populações, situadas praticamente em três faixas litorâneas distintas do Brasil.

Para essa primeira missão, contamos com a valiosa e indispensável ajuda do excelente guia Edson Rocha.

A estrela do Edson brilhou nesse dia! Fomos num primeiro local onde os guarás poderiam ser encontrados (eles vivem em bandos), infelizmente não estavam lá, mas mesmo assim o Edson descolou um lifer para o Clezio e uma excelente foto para mim, da saracura-matraca.

Rallus longirostris


Nesse local tivemos uma conversa não muito animadora com um barqueiro que disse que a maré estava alta o suficiente para inviabilizar nosso intento, haja vista que os guarás são mais encontrados na região aproveitando as águas rasas da maré baixa para se alimentarem. O tempo nublado com algumas nuvens carregadas também nos causava certa apreensão, mas como costumo dizer, sou amigo de São Pedro e quando a chuva vem, geralmente é pra ajudar.

Com o escasso tempo disponível, partimos então para o outro e último ponto onde poderíamos encontrá-los.

Quando estacionamos o carro o Edson relatou que quando a maré está baixa dali mesmo já poderíamos vê-los. Confesso que saí do carro um pouco desanimado, pois só vislumbrava o verde e o prateado das águas. Naquele momento o vermelho era a cor da esperança.

À medida que nos aproximávamos da beira da água, a paisagem ia se descortinando, até que o Edson avista um pequeno bando ao longe, num pequeno e aparentemente único banco de areia daquele ponto. A felicidade do encontro não foi suficiente para aplacar a frustração da grande distância.

Esse era o quadro à longa distância


Mas foi aí que a estrela do Edson brilhou! Naquele exato instante, um senhor estava prestes a retirar sua pequena embarcação de dentro d'água, mas o Edson, com toda sua notável simpatia, perguntou ao distinto senhor se ele poderia nos levar até os guarás. A melancolia se transformou em grande alegria quando o senhor prontamente se dispôs a nos ajudar!!!

Sem nenhum intuito de recompensa, nosso novo e anônimo amigo teve toda a paciência e dedicação para nos proporcionar as melhores situações possíveis para foto (quase chegamos a encalhar!). Sua verdadeira recompensa foi nossa alegria e a satisfação de fazer o bem, mostrando para aqueles estranhos viajantes as belezas de sua terra, tão bem simbolizadas pela sublimidade daquela ave.

Agradecimentos ao grande amigo Daniel Mello pelo trabalho de tratamento dessa foto



O pós tauató ficou por conta do grande Marcos Eugênio, que nos apresentou o ameaçadíssimo bicudinho-do-brejo-paulista (Formicivora paludicola), espécie que só foi descoberta em 2004, apesar de viver há poucos quilômetros do maior centro urbano da América Latina! Realmente surreal!


Bicudinho-do-brejo-paulista, na única oportunidade para fotos que ele nos proporcionou

Digno de nota também, nessa nossa breve passagem pelo vale do Paraíba paulistano, foi a visita ao Sítio do Pica-pau-amarelo, local onde Monteiro Lobato viveu e que o inspirou na criação das histórias que marcaram época. Foi uma verdadeira viagem no tempo, recomendo bastante!

É isso pessoal, despeço-me agradecendo imensamente os amigos Edson Rocha e Marcos Eugênio por nos proporcionar tantas ótimas emoções.

6 comentários:

  1. Sim, João Sérgio. Valeu Brother. Então o alemães, no início da colonização do Brasil, "aportaram" nas costas Brasileiras?!👍👍👍👍👏👏👏

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  2. Guará e bicudinho, uma combinação prodigiosa! Sua fotografia da matraca está estupenda! Saravá

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