quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A águia-fantasma e o espírito da coisa

Ave amigos!

Quando se pensa em águia, o que vem à nossa mente?

Aquele imponente predador alado, pousado no cume da mais alta montanha, observando altaneiro a paisagem entrecortada por profundos vales e salpicada por picos nevados.

Essa imagem, típica do gênero Aquila, está no inconsciente coletivo da humanidade.

Mas quando se trata das nossas maiores águias florestais, a coisa muda de figura... torna-se tropical, exótica, respirando a atmosfera misteriosa que envolve a última fronteira selvagem do planeta.

Enquanto Aquila sobrevoa ativamente seu vasto território, utilizando suas longas asas para "pegar" térmicas, e sua poderosa visão para detectar suas presas, Harpia e Morphnus aguardam pacientemente seu alimento, escondidas em meio à densa vegetação. Praticamente nunca voam acima do dossel, deslocando-se entre as copas das árvores.

Eis o porquê desses seres estarem entre os mais difíceis de serem encontrados na Natureza, a despeito de seu descomunal tamanho, e também entre os mais desejados - não só por birders, mas por aventureiros de variadas linhagens.


A "águia-fantasma" (Morphnus guianensis), numa raríssima materialização

O uiraçu (Morphnus guianensis) (que com a harpia são as maiores águias florestais brasileiras) é a única águia polimórfica que conheço: são duas formas claras e duas escuras, sendo as escuras as mais raras.

Seu shape impressiona pela beleza, eficiência e por "fugir do lugar comum", uma verdadeira obra-prima da evolução.

Suas asas são relativamente curtas e arredondadas, pois precisam realizar rápidas manobras para vencer os vários obstáculos do seu complexo habitat. A cauda extremamente longa também é excelente recurso para seus voos acrobáticos, funcionando como poderoso leme.

O campo de visão dentro da mata densa é muito limitado. A audição acurada aumenta as chances de detectar presas, para tanto elas podem acionar um disco facial, como o das corujas, mas que pode se retrair ao seu comando, quando mergulham sobre suas presas, por exemplo.

A cabeça relativamente pequena finaliza essa avançada "máquina de caçar dentro da floresta" (dizem que a caçada que tais predadores realizam contra bandos de macacos está entre os maiores espetáculos das selvas tropicais).

Importante salientar que a função dos predadores na cadeia alimentar é de suma importância, controlando populações e doenças, mantendo o meio ambiente equilibrado.

No mundo natural, tudo se encadeia perfeitamente. O "supérfluo" é uma criação humana. E no tocante à Natureza, só sua beleza pode assim ser definida.

Shape


O ninho da pousada Refúgio das Águias, somado à construção de uma torre, proporcionou raros registros






Encontrar um uiraçu na Natureza é, para birders, como ganhar um prêmio da loteria.

Para se ter uma ideia, a cada dez ninhos de harpia encontrados pelo "Projeto Gavião-real", somente um de uiraçu é descoberto, conforme me informou Fernando Sella, proprietário da pousada situada na fazenda Casa Grande e protagonista de uma belíssima história sobre preservação.

A fazenda de 10 mil hectares foi adquirida há quase meio século por seu bisavô e o Fernando resolveu tomar a iniciativa de cuidá-la, deixando pra trás sua distante terra natal. Apesar de pressões de vários matizes, resolveu preservar noventa por cento de suas terras (a lei obriga somente 35%) e tal nobre ação foi recompensada com a descoberta de um ninho ativo de uiraçu, que somado a um ninho já encontrado de harpia, transformou a fazenda no incrível "Refúgio das Águias". Realmente um feito extraordinário, lugar único no mundo!

Sua propriedade localiza-se no limite sul da Amazônia, um dos primeiros lugares que foram explorados pelo homem, numa época que ainda não havia limites para a devastação. Mas seus antepassados possuíam gosto pela Natureza e o Fernando aprimorou tal vocação, sendo hoje um exemplo a ser seguido, lutando para demonstrar que há meios para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Fernando, clicado pela linda Antônia, sua princesinha

Finalizo a primeira parte desse relato parabenizando o grande Fernando Sella e toda sua família pela capacidade de acreditar e lutar por um sonho que ultrapassa os limites muitas vezes mesquinhos e egoístas que nos aprisionam.

15 comentários:

  1. Muito legal este texto, João.
    E que fotos!
    Você sabe até quando o filhote fica no ninho?

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    1. O Fernando me disse que mais um ano. Mesmo depois que começa a voar, ele ainda volta pra dormir no ninho, permanecendo nas imediações.

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  2. Que bacana João, lindo texto , sempre aprendendo um pouco do mundo das aves com vc! Grande abraço

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  3. Parabéns pela matéria, importantes informações que não conhecia, Valeu!

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  4. Excelente texto, fotos e informações, João! Gostei da descrição do comportamento e morfologia dela.

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    1. Obrigado amigo, tentei passar o q sinto, pois parece ser uma necessidade humana compartilhar o q nos causa admiração.

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  5. Bicho impressionante, parabéns pelo relato, sempre vivo e emocionante

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  6. Muito bom João! Legal ter compartilhado o momento. Suas fotos ficaram maravilhosas. Parabéns pelo texto, à altura dessa belíssima espécie! Abração!!

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    1. Obrigado pelo feedback meu amigo, foi uma ótima surpresa e grande prazer reencontrá-lo naquele momento inolvidável.

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