sábado, 23 de fevereiro de 2019

Chapada Diamantina, parte III

A riqueza da Chapada Diamantina vai muito além dos seus magníficos campos rupestres.

Formações florestais associadas a áreas pedregosas abrigam uma espécie muito rara, que só ocorre na Chapada, o tapaculo-da-chapada-diamantina, localmente conhecido como "gruneiro".

"Grunas" são espécies de cavernas criadas para extração do diamante. Os garimpeiros, pioneiros na Chapada, encontrando nas grunas aquele lifer, assim o batizaram.

Interessante paralelo podemos traçar com os Augastes.

Assim como temos o gravatinha-vermelho (A. lumachella), endêmico dos campos rupestres do Espinhaço norte, e o gravatinha-verde (A. scutatus), endêmico dos do sul, temos o tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus diamantinensis) e o tapaculo-serrano (Scytalopus petrophilus), que ocorre no Espinhaço sul e um pouco mais "pra baixo", chegando a alguns trechos da Mantiqueira.

Ambos ocupam praticamente o mesmo habitat ("petrophilus" significa amigo das pedras), sendo que morfologicamente as semelhanças são muito maiores que os beija-flores. Vale ressaltar que diamantinensis só foi "descoberto" em 2007, creio que antes disso deveria ser confundido com seu primo do sul. Mais um caso para a fascinante Biogeografia.

Paciência, virtude imprescindível também para fotógrafos de aves/Foto: Clara Botto

Tínhamos uma manhã para tentar fotografar aquele que pra mim era o maior desafio dessa viagem, um dos mais raros Scytalopus conhecidos. Quem sabe, sabe, conhece bem, como é difícil registrar um Scytalopus.

No primeiro ponto encontramos um belo casal de sanhaço-de-fogo e uns aracuãs-de-barriga-branca que não deram "mole", mas nem um pio do gruneiro.

O segundo e último ponto (os outros pontos conhecidos demandavam muitas horas de caminhada) proporcionou-nos belos cenários, mas nada do gruneiro.

Cheguei a manifestar a desistência do bicho, afinal estávamos no período de descanso reprodutivo, enfraquecendo nossas chances de atrair e fotografar o arredio e irriquieto gruneiro. Mas foi aí que o Tavinho mostrou que não só brilha nos palcos.

Ele estava tão convicto que no dia seguinte encontraríamos o gruneiro que sua fé me comoveu e convenceu. Então, no dia seguinte, lá fomos nós, em bom "mineirês", "traveiz".

Sentei-me no chão, posicionando-me da melhor maneira possível. Depois de algum tempo, o som da esperança ecoou no meio do mato, uma sequencia breve e única me fez render graças aos céus e agradecimentos ao Tavinho.

Mas o tempo, em apreensivo silêncio, passava. Nem um pio, nem uma movimentação. Será que o bicho deu um alarme e sumiu? Sem aviso notei o mato se mexendo bem do meu lado, a menos de um metro! Meus olhos esbugalhados procuraram nosso guia que acenou positivamente! Rolou aquele o. o. na hora!

O fantasminha então pulou para um galho no "limpo", mas ainda tão perto que a lente não conseguia focar. Logo na sequencia foi para o local onde consegui salvar uma única foto, o suficiente para ganharmos o dia!

Gruneiro, espécie em perigo de extinção, no único click que salvou


Na sequência outra "pedreira".

No cerradão a "caçada" continuaria desafiadora com o torom-do-nordeste (Hylopezus ochroleucus).

No cerradão a brenha é obstáculo a ser vencido/Foto: Clara Botto


Pia de lá, embrenha daqui e mais uma vez não conseguimos revelar toda a excêntrica beleza do tímido torom-do-nordeste.

A brenha era tão braba que não conseguimos fugir dela

O cerradão que o grande Thalison Ribeiro nos levou era top demais, encontramos todas as especialidades nordestinas que procurávamos.

Chupa-dente-do-nordeste (Conopophaga cearae)



Bico-virado-da-caatinga (Megaxenops parnaguae)

Formigueiro-do-nordeste (Formicivora lhering)

Pica-pau-ocráceo (Celeus ochraceus)


Mas ainda não é tudo pessoal! A Chapada Diamantina ainda tem muitas riquezas a revelar!

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