sábado, 11 de fevereiro de 2023

Iberá, segunda parte

Ave!

No verão, o sol em Iberá acorda bem cedo e dorme muito tarde. Viajando há quase uma semana, em ritmo acelerado, o cansaço bate e então começamos a sair um pouco mais tarde do que o de costume, o que não atrapalhou em nada nossos planos. Afinal, chegando ao meio século de idade, o motor começa a perder potência.

O segundo dia de passarinhadas em Iberá foi magnífico, como o primeiro.

A caminho do local onde o grande Fernando Farias tinha encontrado, no dia anterior, o cardeal-amarelo e o pica-pau-de-testa-branca (mais uma vez agradeço demais, meu amigo!), paramos pra fotografar bando de caboclinhos e um sabiá-do-banhado (na hora confesso que não tinha certeza de qual espécie se tratava) que estava "dando mole". 



Casal de caboclinhos-de-chapéu-cinzento




O Fernando havia nos alertado que Sporophila iberaiensis, o recém-descrito caboclinho-do-pantanal, estava acompanhando os bandos de caboclinhos que se formaram com o nascimento dos filhotes. Ele já o havia encontrado no local onde o grande Ricardo Oliveira nos havia indicado também. De qualquer forma sempre procurávamos o caboclinho de Iberá, a cada bando encontrado.



A parada é obrigatória quando se trata desse bicho fantástico


Após mais uma parada pra fotografar a grande estrela de Iberá, chegamos ao local indicado, uma estrada secundária que atravessava áreas de espinilho. 

Bastou segundos de playback num ponto dessa estrada que achei propício para que um casal de cardeais-amarelos se apresentasse. 








Tranquilos, não se importavam com nossa presença e pudemos passar momentos inolvidáveis com a rara e graciosa dupla.








Ainda extasiados com o show daquelas magníficas aves, encontramos mais um festejado lifer, o pica-pau-de-testa-branca. 



Assim como o raro pica-pau-de-barriga-preta, esse pica-pau só ocorre, em terras tupiniquins,  no oeste gaúcho e no Pantanal.




Felizes da vida, seguimos para o local onde o Roberto Guller nos informou que havia o belo e raro pica-pau-de-barriga-preta, a Estância Rincon del Socorro, um resort muito pitoresco, dentro da área do parque nacional, que parece aqueles de filmes antigos de safaris africanos. 

Chegamos vibrando numa energia ótima e o lugar também vibrava muito positivamente. Esse segundo dia estava como o primeiro, positive vibration yeah!

A foto do quadro foi tirada em Iberá


Fomos muito bem recebidos pelo pessoal da Estância, e também por seus vizinhos.











Com um funcionário do hotel, pegamos uma dica de local onde ele costumava ver o raro pica-pau, mas sempre de passagem, nos alertou. 

O ponto consistia em poucas árvores que ficavam nos limites da área construída do hotel, mas lá acabamos encontrando "somente" um ninho ativo do pica-pau-de-testa-branca. 


Vale lembrar que as savanas dominam as paisagens do parque e que qualquer concentração de árvores é uma área em potencial para encontrar o grande picídeo.

Foi assim que, pesquisando por imagens de satélite, chegamos a uma área com uma boa concentração de árvores e lá tentamos o playback.

Uma, duas, três vezes. 

Algumas experiências passadas com outros picídeos do mesmo gênero (Campephilus) não foram muito animadoras. Muitas vezes só conseguimos ouvir uma resposta longínqua. Ademais, o uso do método tradicional de atração, numa época que os pais estão cuidando dos filhotes, praticamente não passa de tentativa desesperada de conseguir o tão sonhado lifer.

Já havíamos desistido de procurar naquele ponto que parecia ser promissor e, retornando ao carro, bem ao seu lado, uma peitica-de-chapéu-preto, na altura dos olhos, nos atrasou a partida.



Havíamos encontrado várias dessas peiticas nessa viagem. Nessa época, como muitas outras espécies, elas migram ao sul de sua área de invernagem para se reproduzirem. Já havia fotografado outras no RS, mas essa estava numa condição muito boa e foi graças a isso que conseguimos um dos bichos mais difíceis da expedição Espinilho/Iberá.

Quando já estávamos para entrar no carro, um, dois, três bichos passaram como flechas sobre nossas cabeças e pousaram numa grande árvore mais adelante.

"São eles!!!" Sussurrei com um grito abafado!  

Adrenalina a mil, indo o mais rápido e suave possível em direção à emergente, imaginando que, como seus congêneres, eles seriam ariscos e poderiam sumir como apareceram, sem aviso prévio.

Usando a velha e cautelosa técnica de fotografar e ir aproximando bem devagar, depois de dezenas de fotos e algumas paradas, chegamos bem próximos e notamos que eles eram mansos, muito mansos!... Aliás, como quase todos os bichos daquele magnífico santuário ecológico argentino.

Então ficávamos rodeando a árvore em busca do melhor ângulo, da melhor luz (mas não teve como fugir do terrível fundo claro). 

Conversávamos entusiasticamente, e até com eles, tal a euforia em vivenciarmos aquele momento com um casal de pica-paus-de-barriga-preta e sua jovem filha, brincalhona e serelepe.

Um bicho que até o grande Raphael Kurz, requisitado guia do RS, elege como um dos mais difíceis, contando com pouquíssimos registros no Wikiaves.









Papai pica-pau

A matriarca

Jovem fêmea

Campephilus leucopogon, um dos pica-paus mais belos e raros que já pude contemplar




Após um almoço tipicamente argentino sem precedentes e uma sesta em profunda conexão com a Natureza, despedimo-nos daquele lugar fantástico que certamente deixará as melhores marcas nos nossos espíritos. 




Recomendadíssimo!!!


No retorno ainda pudemos fazer, de dentro do carro, alguns registros legais do caboclinho-de-papo-branco. 









Sempre os encontramos se alimentando. Será que já se preparavam para a longa jornada rumo ao norte?




Difícil eleger qual caboclinho é o mais bonito, mas esse disputa o primeiro lugar.


A expedição continua e com a missão mais difícil, "encontrar uma agulha no palheiro", nos dizeres do amigo Ricardo Oliveira.

PS: muitos amigos estão me reportando que não conseguem comentar, infelizmente não tenho domínio sobre isso, caso queiram comentar na publicação que fiz desse post no face: https://www.facebook.com/joaosergiobarros/ 

8 comentários:

  1. Gostei muito, João! Num sábado preguiçoso em casa, valeu por uma passarinhada. (e boa dica de local)

    ResponderExcluir
  2. Que relato maravilhoso. Obrigada por compartilhar.

    ResponderExcluir
  3. Só registro maravilhoso! Que passagem magnífica pelo sul. Volte mais vezes.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu amigo, foi uma das melhores viagens da minha vida, não só pelos registros, mas também pelas amizades, exemplos (como o seu) e conhecimentos recebidos.
      Voltarei no inverno, inté!

      Excluir
  4. 👏👏👏No aguardo dos próximos capítulos

    ResponderExcluir