terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Iberá, um paraíso argentino

 Ave amigos!

O Parque Nacional de Iberá, localizado na província de Corrientes, no nordeste da Argentina, possui mais de 195 mil hectares e está inserido na Reserva Natural Iberá, com 1.300.000 hectares, sendo a segunda maior área úmida do mundo, só perdendo para o nosso Pantanal.

Formado principalmente por extensos campos naturais, áreas úmidas e de "espinilho", o Parque Nacional de Iberá possui espécies raras e típicas desses ecossistemas, como a tesoura-do-campo e o cardeal-amarelo, dentre as mais de 360 aves catalogadas.

A mastofauna também se destaca, o ameaçado cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) é relativamente comum naquele refúgio ecológico e parece não se incomodar com nossa presença. Também encontramos dois lobos-guarás (Chrysocyon brachyurus), espécie quase ameaçada de extinção, muitos veados (provavelmente catingueiros e campeiros), capivaras, preás, catetos e infelizmente um mão-pelada e um ratão-do-banhado atropelados na estrada que margeia o parque e que dá acesso à Colonia Carlos Pellegrini, principal povoamento da região e que nos serviu de base.

Aproveito para deixar aqui meus sinceros agradecimentos aos hermanos Roberto Guller, grande fotógrafo de Natureza argentino, autor de vários livros sobre a fauna do nosso país-irmão, e Jorge La Grotteria, do excelente site (top 5 no Birding Top 1000) https://www.ecoregistros.org/site/index.php. Suas informações foram fundamentais, haja vista que não fomos com guia. 





Laguna Iberá






Após 240 km de estrada (lembrando que saímos de Uruguaiana), sendo boa parte de terra, chegamos em nossa pousada. 




Mas, no caminho, já tivemos uma pequena amostra do que nos aguardava. O dia já findava quando encontramos duas espécies ícones do "pantanal argentino", o cervo-do-pantanal e a rainha de Iberá, a incrível tesoura-do-campo (Alectrurus risora), que ilustra o logo do parque e o portal de boas vindas.


Bicho imponente!




Bicho surreal!!!


Notem a arte da tesoura-do-campo acima do letreiro do Portal Laguna Iberá 


Levantamos junto com o sol e partimos em busca da rainha de Iberá para melhorarmos nosso registro do dia anterior, feito já com pouca luz. Mas o primeiro bicho que encontramos foi outro ícone do parque, o aguará guazú.

Manso...


Em seguida, a emoção ficou por conta do encontro com fêmeas (e jovens?) da tesoura-do-campo. Legal frisar que no Brasil temos pouquíssimos registros dessa sp e somente um do macho, feito em Foz do Iguaçu, divisa com Argentina, em julho de 2020 (fonte Wikiaves). 

Creio ser um jovem, já era época deles, havia muitos jovens de várias espécies


Fêmea de yetapá de collar






Continuamos a busca pelo fantástico macho. De dentro do carro íamos "escaneando" aqueles infindáveis campos, atrás de um par de penas esvoaçantes.



Esse belíssimo cardeal pousado à beira da estrada nos obrigou a um "clickstop"

O próximo passarinho interessante que pintou, um caboclinho-de-barriga-vermelha (e carrapato no papo)


Esse jovem falcão-de-coleira me intrigou ao pousar na estrada, só fazendo esse post notei que estava engolindo um cascalho (provavelmente para ajudar na digestão)


Iberá é o paraíso dos caboclinhos, não a toa foi recentemente descrita uma nova sp desse pequeno passarinho naquelas paragens, o Sporophila iberaiensis, que inclusive se tornou um dos bichos mais tops de lá.

A próxima parada foi com o ameaçado caboclinho-de-papo-branco, um dos mais comuns em Iberá (o tico-tico-do-banhado só notei quando baixei as fotos)


Meados de dezembro é uma ótima época pra fotografar a tesoura-do-campo, mas nem tanto os caboclinhos, que, já com filhotes, não atendiam mais ao playback.


Esse gavião-cinza, lifer muito esperado (e festejado), sumiu como apareceu, muito rápido


O caboclinho-de-papo-branco, um dos meus preferidos, pintou novamente mais adelante, mas sempre bem arisco



Esse jovem tipio já "deu mole"


O próximo caboclinho "a dar as caras" foi o de chapéu-cinzento
Esses caboclinhos são bunitinhos demais da conta, sô!



Iberá é um importante refúgio também para a "caboclada".

Muitos caboclinhos estão ameaçados de extinção devido à destruição do habitat. Os milhares de hectares preservados do parque nacional são importante sítio reprodutivo para várias espécies desses pequenos e graciosos passarinhos.

Campos naturais a perder de vista



Nossa busca pela grande estrela de Iberá continuava, enquanto a ansiedade aumentava. 

No dia anterior tinha sido fácil demais encontrá-lo, mas no dia seguinte nada do bicho, contrariando nossas expectativas.

Bandos de caboclinhos passavam em vários momentos na estrada, então começamos a ignorá-los para manter o foco. 

 Aquela busca acirrava nossos apetites. Não dizem que o melhor tempero é a fome?...

Imaginem então nossa emoção quando detectamos aquela silhueta ímpar sobre o capinzal!!!

Acostumados com estereótipos comuns, típicos, aquela silhueta diferente de tudo que já tínhamos visto, na primeira viagem fora do país feita exclusivamente para passarinhar, realmente é algo que ficará marcado pra sempre em nossa memória. 











E com direito ainda a display, digno de sua singularidade


Após o display, o macho pousou nesse ponto. Seria alguma espécie de harém?!







Depois de vivenciarmos momentos extasiantes com essa espécie incrível, continuamos nossa jornada em busca da rica fauna de Iberá. E não demorou muito para encontrarmos outro caboclinho fantástico, lifer muito aguardado.

Caboclinho-de-sobre-ferrugem



Já de volta, na entrada da Colonia, no entorno do Portal Laguna Iberá, um dos quatro portais do parque, encontramos essa belíssima gralha-picaça e assim finalizamos a primeira fantástica manhã em terras argentinas. 





Depois de um imprescindível descanso pós almoço, principalmente por causa do forte calor que se repetia também em Iberá, fomos explorar a mata ciliar da Laguna Iberá, enorme lago que fica às margens e dá um charme especial à Colonia Carlos Pellegrini. 

Sua vegetação ciliar lembra muito as matas de galeria do nosso Cerrado, lá tivemos o prazer de reencontrar dois velhos conhecidos.


Aspecto da vegetação ciliar



Tico-tico-rei



O sempre impressionante arapaçu-beija-flor



À tarde geralmente a atividade das aves é bem menor e tendo em vista o calor e o cansaço que o tempo vai nos infligindo, nos demos por satisfeitos e finalizamos esse primeiro dia inolvidável em Iberá.


A manhã do dia seguinte seria dedicada principalmente ao raríssimo cardeal-amarelo e a alguns pica-paus tops de lá. Inté então.




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